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Quarta-feira, 22 de agosto, o dia em que a humanidade entra “no vermelho” no balanço anual da contabilidade ambiental do planeta.
Elaborado pela Global Ecological Footprint Network, parceira da empresa brasileira ecosSISTEMAS, o Overshoot Day indica em qual dia do ano gastamos toda a nossa “poupança” de recursos naturais teoricamente reservada para o ano todo, ou seja, estamos utilizando estes recursos numa velocidade muito maior do que o planeta é capaz de regenerar.
Mais que um indicador de contabilidade ambiental, afirma Laura de Santis Prada, engenheira agrônoma e diretora da Unidade Agricultura e Florestas da ecosSISTEMAS, o Overshoot Day é um indicador de incompetência de nós, humanos em gerir e administrar nossos próprios recursos, seja do ponto de vista “local”: nossa casa, nosso local de trabalho, ou global: nossas leis, nossos acordos multilaterais etc.
A cada ano o Overshoot Day vem sendo realizado mais cedo no calendário. “O que podemos fazer para conseguirmos comemorá-lo só no dia 31 de dezembro? pergunta Laura. “Dê sua sugestão e mais importante que isso: não espere mais! Ponha em prática hoje mesmo bons hábitos de consumo dos recursos naturais!”
Este ano, a partir da quarta-feira (22), a humanidade vai ampliar o déficit ecológico, utilizando os estoques de recursos naturais e acumulando dióxido de carbono na atmosfera.
Assim como um extrato bancário, a Global Footprint Network mede a demanda da humanidade e a oferta de recursos naturais e serviços ecológicos. E os dados são preocupantes. A Global Footprint Network estima que em aproximadamente 8 meses, a humanidade consumiu mais recursos renováveis do que planeta pode oferecer para um ano inteiro.
Em 1992, o Overshoot Day — a data aproximada quando o consumo de recursos excede a capacidade do planeta — caiu em 21 de outubro. Em 2002, Overshoot Day foi em 3 de outubro. Dadas as tendências atuais de consumo, uma coisa é clara: o Overshoot Day tende a chegar acada vez mais cedo a cada ano.
O Overshoot Day é conceito originalmente desenvolvido em parceira pela Global Footprint Network e a New Economics Foundation do Reino Unido. Ele funciona como o marcador anual de quando começamos a viver além dos nossos meios em um dado ano.
Embora seja apenas uma estimativa aproximada das tendências de tempo e recursos, o Overshoot Day é o mais perto que a ciência pode chegar ao medir a distância entre a nossa demanda por recursos e serviços ecológicos, e o quanto a Terra pode oferecer.
Durante a maior parte da história, a humanidade utilizou os recursos da natureza para construir cidades e estradas, para fornecer alimentos e criar produtos, e para absorver o dióxido de carbono nosso a uma taxa que estava bem dentro do orçamento da Terra.
Mas, em meados da década de 1970, nós cruzamos um limiar crítico: o consumo humano começou a ultrapassar o que o planeta poderia produzir.
De acordo com cálculos da Global Footprint Network, a nossa demanda por recursos renováveis e os serviços que eles fornecem agora é equivalente a mais de 1,5 planetas. Os dados mostram que estamos caminhando para exigir os recursos de dois planetas bem antes de meados do século.
“Gastar” o nosso capital natural mais rápido do que ele pode ser reposto é semelhante a ter gastos que excedam continuamente renda, afirma a Global Ecological Footprint Network.
Em termos planetários, os custos do uso excessivo de nossa capacidade ecológica estão se tornando mais evidentes a cada dia.
A mudança de um clima, consequência de gases de efeito estufa emitidos mais rápido do que podem ser absorvido pelas florestas e oceanos, é o resultado mais óbvio. Mas há outros como o encolhimento das florestas, perda de espécies, o colapso da pesca, preços mais altos de commodities e de distúrbios civis, para citar alguns.
As crises ambiental e financeira que estamos enfrentando são sintomas de iminente catástrofe. A humanidade está simplesmente usando mais do que o planeta pode oferecer, afirma a organização.
O Overshoot Day é uma estimativa, não uma data exata. Não é possível determinar com precisão de 100 por cento o dia em que estoura nosso orçamento ecológico. Ajustes da data, no entanto, são devido a cálculos revistos, não a avanços ecológicos por parte da humanidade.
Foto da Terra vista pela Nave Apollo em 1968