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O prefeito Pedro Bigardi anunciou na tarde desta sexta-feira, 5 de fevereiro, através de uma nota oficial na página do Facebook do partido, sua filiação ao PSD (Partido Social Democrático).
Assim, sem mais nem menos. Nem entrevista coletiva deu.
E foi sair no bloco Refogado do Sandi, uma tradição na cidade e na vida dele mesmo.
Deu uma guinada à direita do espectro partidário e foi pras ruas sair no bloco que é reduto da esquerda jundiaiense, onde estão (estavam e estarão) os principais militantes que o ajudaram a se eleger em 2012 pelo PCdoB, numa coligação com o PT.
Esse é Pedro Bigardi.
Em 2013, logo no início de seu mandato, Bigardi também deixou o gabinete numa tarde de sexta-feira pra sair fantasiado de pirata pelas ruas do centro da cidade.
Naquela época, escrevi que a atitude dele tinha tudo a ver com coerência, pois ele optava por estar junto aos amigos sob a inspiração do criador do Refogado, Erazê Martinho, e mostrava que ele pretendia, como prefeito, colocar em prática o discurso de ter uma cidade pra pessoas.
Todas as pessoas.
Em alguma medida, nos três anos seguintes, seguiu o plano. Mas ao deixar o PCdoB e optar por um partido que tem como estrela máxima o ministro das Cidades, Gilberto Kassab — ex-vice e sucessor do tucano José Serra na prefeitura de São Paulo –, Bigardi deu um nó na cabeça de muitos seguidores militantes.
Afinal de contas, prefeito, qual é o plano?
Conversei com Pedro Bigardi por telefone no final da tarde desta sexta-feira, depois dele ter estado por algumas horas no Refogado do Sandi.
Tranquilo, o prefeito explicou seus motivos e garantiu que continua uma pessoa de esquerda, com os mesmos ideais, mas precisou mudar de partido pra continuar fazendo o que quer fazer.
“Eu estava me sentindo meio abandonado pela direção nacional do PCdoB. E eu mesmo sentia que não tinha mais o que oferecer ao partido. Nem o partido nada a me oferecer”.
“Sentia uma distância do partido nacional com o projeto local. Me sentia um peixe fora d’água. Falei isso ao Rafael (Purgato, vereador pelo PCdoB) e ao Orlando Silva (PCdoB nacional).
Bigardi disse que quando anunciou seu desligamento do PCdoB, em 19 de janeiro, pretendia dar um tempo, ficar algum meses afastado da vida partidária. Mas não teve como.
“Foi impossível diante do assédio de muitos partidos”.
O prefeito conversou com o Carlos Luppi, presidente nacional do PDT e outras lideranças do partido em São Paulo. Chegou a avaliar entrar na legenda. Mas optou pelo PSD porque, na visão dele, o partido faz parte da base de apoio local desde 2012.
Na verdade, dos cinco partidos que apoiaram a candidatura dele em 2012 (PSD, PPL, PSL, PT e PCdoB) apenas três continuam na base: PT, PCdoB e PSD. O secretário de administração e gestão, Denis Crupe, embora não seja filiado ao partido, é filho de Osmil Crupe, liderança local do PSD. E hoje, os secretário de Esportes, Cristiano Lopes, e Agricultura, Marcos Brunholi, são filiados ao partido.
A polarização nacional entre PT e PSDB está jogando a política pra baixo
“Eu continuo sendo a mesma pessoa. Com a mesma ideologia. Mas a polarização nacional entre PT e PSDB está jogando a política pra baixo. O PSD não tem um posicionamento determinado. E isso ajuda a ampliar as relações locais”.
Nas entrelinhas, Bigardi diz que o PDT tem uma posição determinada demais pro gosto dele e, ao nível local, haveria mais problemas para compor uma base de partido forte e capaz de apoiá-los nas próximas eleições.
Mesmo com essa guinada à direita, o prefeito não teme perder o apoio de seus fiéis militantes.
“Eu acredito que não vou perder apoio. Pois a militância confia na minha própria trajetória política”.
Mas na prática, como é que fica?
Por exemplo quando se fala em Plano Diretor, um assunto que tem claramente dois lados: o dos empreendedores, que preferem uma cidade mais aberta ao capital, e os esperançosos de uma cidade que consiga conciliar crescimento e qualidade de vida.
Até então, Bigardi vinha apoiando as discussões do Plano Diretor Participativo e se posicionou favoravelmente a uma cidade que preserve seus mananciais, amplie e valorize sua área rural e garanta a existência de bairros tradicionais.
Pulando pro barco de um partido mais conservador isso muda de alguma maneira?
“Nós vamos defender o Plano Diretor até o fim”
“Eu sempre trabalhei com estratégia política. Mas tem coisas que não dá pra abrir mão. Nós vamos defender isso (o Plano Diretor que está sendo construído de forma participativa) até o fim. Temos políticas claras e de esquerda”.
Para o prefeito, o problema maior é que o sistema partidário está muito ruim atualmente e alguma mudança precisa acontecer. “A política partidária está confusa”.
E como que, de certa forma, justificar sua decisão, lembra que o PCdoB apóia o PSDB em algumas cidades e o PT também tem alianças variadas.
“Não dá pra falar em coerência partidária”.
O próximo passo de Bigardi será definir os apoios para a reeleição e o candidato a vice. Na atual conjuntura, ele tem o apoio do PHS (com dois vereadores), PMDB (um vereador), PSDC (partido com muitos líderes comunitários), PT e PCdoB.
“Estou discutindo com outros partidos, mas já temos mais gente coligada que em 2012. Mas estou conversando pessoalmente com cada liderança. Quero fazer isso pessoalmente para ter clareza nas relações”.
Bigardi afirma que pelas pesquisas internas de sua administração, o governo municipal é um dos mais bem avaliados dos estado. Quando a pesquisa é direta, no entanto, com os nomes dos possíveis adversários, ele mostra algumas dúvidas.
“Posso te dizer que na avaliação de governo nossos números são favoráveis, especialmente depois do segundo semestre de 2015. Nas simulações, ainda depende do candidato da oposição.”.
O prefeito disse que ainda não definiu seu vice. “Não falei com ninguém. Isso vai depender das conversas com os partidos. Mas a definição do vice não vai depender das negociações com partidos, é uma decisão minha”.
Bigardi concorda que está devendo aos cicloativistas e ciclistas
De certa maneira, o governo Bigardi nunca foi um governo puramente de esquerda. Um dos exemplos é a atenção para a mobilidade. A maior parte das ações da Prefeitura beneficiam os mesmos proprietários de automóveis que as administrações anteriores sempre deram atenção.
As poucas ciclovias implantadas aconteceram mais em razão de contrapartidas de Estudos de Impacto de Vizinhança do que de um plano cicloviário.
Bigardi concorda que está devendo aos cicloativistas e ciclistas, muitos deles apoiadores de sua candidatura em 2012.
“Eu concordo que a gente poderia ter ido mais rápido. Mas estamos elaborando um Plano Cicloviário. Eu não queria fazer algo de qualquer jeito. Prefiro fazer menos mas com mais segurança. Mas ainda teremos ações implantadas esse ano”.
Para ele, há outros pontos que deveriam ter sido tratados pela atual administração e que faziam parte dos planos de governo, mas não foram realizados por falta de verbas (a arredação municipal caiu e também a do governo estadual e federal).
“O complexo Fepasa, por exemplo. Temos um projeto, mas não conseguimos executar. O hospital novo. Sabemos que não é possível continuar a atender apenas com o São Vicente. Temos o terreno, o projeto executivo, mas não temos verbas para fazer”.
Fazendo uma análise de sua administração, para ele a recuperação do espaço público, os sistemas das coordenadorias e o maior incentivo às atividades da juventude são os grandes legados.
“Não se trata de construir praças, mas de criar espaços públicos de convivência”.
Para um próximo possível mandato, Pedro Bigardi quer investir em tecnologia. E trazer esse tecnologia mais perto de quem precisa.
“Aposto na tecnologia para tratamento de lixo, na tecnologia para levar internet de alta velocidade nos bairros distantes e na criação do parque tecnológico”.
Leia aqui o artigo publicado em 2012
UM PREFEITO NO REFOGADO DO SANDI. O QUE ISSO TEM A VER?
E a matéria do site da Prefeitura que fala do Refogado do Sandi como patrimônio imaterial
Refogado do Sandi recebe certificado de patrimônio imaterial de Jundiaí
Na foto de abertura, o prefeito Pedro Bigardi entrega o certificado de patrimônio imaterial à diretoria do bloco.
Por Dorival Pinheiro Filho, da assessoria de comunicação da Prefeitura.