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A carta que a escritora e ativista política Jane Jacobs enviou para o prefeito de Nova York Michael Bloomberg, em 2005, um ano antes de morrer, serve perfeitamente ao prefeito Pedro Bigardi ou a qualquer um que venha ocupar o cargo a partir de 1º de janeiro.
Quem lembrou da carta em um post no Facebook nesta sexta-feira foi o especialista em mobilidade urbana e cidades caminháveis, Lincoln Paiva, responsável pelo projeto de Urbanismo Caminhável em Jundiaí e muitos outros projetos inovadores em diversas cidades.
“Caro prefeito Bloomberg,
Meu nome é Jane Jacobs. Sou estudiosa das cidades e me interesso em aprender porque algumas delas continuam prosperando enquanto outras decaem continuamente…”
“… a proposta que lhes foi apresentada pelos funcionários da prefeitura é uma cilada que esconde todas aquelas consequências destrutivas, habilmente embaladas num projeto de torres de luxo visualmente cansativas, imitativas e sem imaginação.
(Jacobs faz referência a uma situação específica de Nova York naquela época)
Como é estranho, como é triste que Nova York, cujos sucessos esclarecem boa parte do mundo, pareça incapaz de aprender consigo mesma as lições de que tanto precisa.
Vou fazer duas previsões com a máxima confiança:
1) Se o Senhor seguir o plano da comunidade, colherá êxito.
2) Se seguir a proposta que lhe foi posta na mesa, talvez venha enriquecer alguns incorporadores imprudentes e ignorantes, mas à custa de um erro terrível e irremediável.
Até os incorporadores e financiadores dessas torres de luxo, supostos beneficiários desse mau uso do poder governamental, podem vir a não se beneficiar; os ambientes de que se faz mau uso não são boas apostas econômicas a longo prazo.
Vamos lá, faça a coisa certa. A comunidade realmente sabe o que é melhor para ela.”
Atenciosamente,
Jane Jacobs
Jane Jacobs foi uma escritora e ativista política do Canadá, nascida nos Estados Unidos.
Sua obra mais conhecida é Morte e Vida de Grandes Cidades (The Death and Life of Great American Cities, 1961), na qual critica duramente as práticas de renovação do espaço público da década de 1950 nos Estados Unidos.
Guardadas as devidas proporções de espaço e tempo, o conselho de Jacobs, de certa forma, vem sendo seguido por Jundiaí, que acaba de aprovar um novo Plano Diretor elaborado com a participação da comunidade.
Aqui, diferente da Nova York citada por Jacobs, os técnicos da Secretaria de Planejamento e Meio Ambiente da Prefeitura trabalharam pela construção de um plano capaz de trazer mais equilíbrio ao desenvolvimento.
Pela primeira vez na história, desde que o primeiro Plano Diretor foi elaborado em 1969, cidadãos comuns puderam opiniar. Mostrar que tipo de cidade imaginávam para o futuro.
O Plano Diretor foi desenvolvido, então, levando em conta a visão dessas pessoas costumeiramente afastadas dos processos de decisão.
Disso resultou um modelo de desenvolvimento mais inclusivo e não ditado apenas pelos setores de construção e imobiliário. Algo, quem sabe, mais sintonizado a um mundo onde as mudanças climáticas já não são uma possibilidade, mas uma realidade diária.
Setores que, na verdade, perderam terreno embora continuem com considerável espaço para desenvolver suas atividades.
Mas um Plano Diretor será apenas um plano se outras ações não forem tomadas no decorrer do tempo para garantir um desenvolvimento equilibrado e harmônio que beneficie a todos os segmentos da cidade.
E é nesse ponto que as palavras de Jacobs servem direitinho.
Que a administração pública seja capaz de ser guardiã dos desejos manifestados pela cidade.
E caso Pedro Bigardi tenha alguma dúvida, que siga o mesmo conselho de Jacobs a Bloomberg:
“Se o Senhor seguir o plano da comunidade, colherá êxito”.
Letter to Mayor Bloomberg and the City Council
Observação importante
Jacobs faz uma referência à proposta que aqueles funcionários daquela prefeitura naquela época faziam ao então prefeito.
Mas a essência do texto é a importância de uma administração pública, qualquer uma, ouvir as pessoas, algo que foi feito em Jundiaí com o Plano Diretor participativo.