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Viu a propaganda do seu candidato na televisão? Não? Nem eu. Nem quase ninguém por essas bandas. A não ser alguém que saiba onde é que a tal tevê câmara pode ser vista. Eu não sei.
Pouca gente sabe.
E essa é uma das encrencas, talvez a principal, tanto pra quem quer se eleger quanto pros eleitores.
O eleitor de Jundiaí já conhece bem os candidatos, de Sorocaba. Isso, Sorocaba. Já estive por lá algumas vezes. Sei que andaram fazendo umas ciclovias e a propaganda na tevê de alguns candidatos é bem feita. Digo bem feita naqueles moldes tradicionais.
Mas pouco sei de Sorocaba. Não faz parte do meu universo.
Sei que Sorocaba existe porque de vez em quando, e bem de vez em quando, olho pra alguma tevê de padaria dessas invariavelmente ligadas na Globo, que por aqui atende pelo nome de tevê Tem.
Mas Jundiaí mesmo, tevê não tem.
Então, o candidato tem que se contentar com alguns segundos de entrevista num evento aqui ali, ou naquelas entrevistas relâmpago feitas sempre no estúdio de Sorocaba. Isso mesmo, o futuro prefeito de Jundiaí tem que ir pra Sorocaba pra ter direito aos seus poucos segundos de fama.
No fundo é triste isso.
Perceber que uma cidade desse tamanho e importância, na verdade, é um lugar de segunda classe quando se pensa em tevê aberta. E tevê aberta, infelizmente, é Globo.
Sim, tem SBT também. Em Sorocaba — e lembrei bem depois, quando vi o debate, tem a Band Campinas. Campinas.
Mas esse é apenas um dos problemas quando se trata de discutir ideias e soluções para a cidade do futuro. E cada candidato pensa um futuro.
Como conseguir informações de qualidade? Não que a tevê proporcione esse tipo de ambiente mas, pelo menos, dá uma visibilidade maior — até para bobagens.
Essa mesma cidade que não se vê na tevê pouco se vê nos jornais e outros meios de comunicação. São poucas rádios, duas delas com alguma dedicação ao jornalismo.
Conheço pouca gente que ouve rádio. Mas diante da falta de televisão, o rádio, especialmente os programas eleitorais obrigatórios, cresceu em importância na disputa por eleitores.
E dois jornais diários sobrevivem a trancos e barrancos. Um deles nem sempre diário — digamos que sai quase todos os dias quando possível. A capacidade de influenciar a opinião pública, no entanto, está próxima de zero em razão das baixas tiragens e da falta de credibilidade.
Há semanários e outros periódicos, mas igualmente com pouca força.
Pra completar o quadro existe a área que mais cresce, a internet, onde diversos veículos disputam o limitado espaço buscando equilibrar as finanças. Da mesma forma, nenhum deles (incluindo o Oa) consegue ter a influência necessária para movimentar a opinião pública.
A mídia fraca produz um jornalismo frágil.
Com isso, perguntas não são feitas. Apurações não são feitas. Comparações não são feitas. E o que se vê, com raras exceções, é um mais do mesmo. Debates mornos, sabatinas longas e soníferas, propostas requentadas.
Cada candidato defende como pode suas posições em seus sites e redes sociais.
E aí a coisa fica ainda mais complicada. A rede social hegemônica colocou mais um pedra no sapato dos marketeiros quando alterou o algoritmo do Facebook limitando muito a ação dos sites de notícia e dos próprios candidatos.
Isso associado a uma lei eleitoral que não permite o patrocínio nas redes sociais criou um ambiente onde os candidatos acabam falando apenas para aqueles que já o seguem.
Nunca se viu uma eleição tão morna no Brasil.
Tão quieta. Tão sem graça. Em Jundiaí, então, nem se diga.
Quanta diferença da eleição anterior. A cidade naquele tempo também não se via na tevê, mas pelo menos as ruas pareciam mais agitadas. Hoje, não fosse pelas hegemônicas kombis brancas de um candidato abonado e as ações tipo show do candidato da situação nos bairros, poucos saberiam que há eleições em 2 de outubro.
Sim, há panfletos e adesivos de carro também. Mas tudo muito insípido, inodoro e incolor.
Em 2012 Pedro Bigardi aparecia como a grande esperança de renovação, de libertação de uma cidade há milênios nas mãos do mesmo grupo. Quase levou no primeiro turno frente ao mesmo Luiz Fernando Machado.
Machado que, no segundo turno, conseguiu ter menos votos que no primeiro.
Quatro anos depois, Bigardi é a continuidade. Mas não assim de um jeito óbvio. Ao longo do caminho, o prefeito deixou o PCdoB e foi pro PSD, de Gilberto Kassab. Trocou o vermelho pelas cores da bandeira brasileira e deixou o antigo aliado PT à própria sorte.
Escolheu a sobrevivência política ao se posicionar mais à direita. É uma aposta que só mesmo o resultado das urnas poderá dizer se terá sido correta ou não. Diante do quadro nacional de ruptura institucional e esfacelamento da esquerda, talvez essa tenha sido a única possibilidade para ele.
A falta de dados confiáveis de pesquisa é outro ponto que deixa a disputa ainda mais complicada. Nada de Ibope ou DataFolha por aqui. Não que os dois institutos sejam lá grande referência no assunto, mas pelo menos são grifes conhecidas do mundo da pesquisa.
Por aqui, apenas uns arremedos de pesquisa meia boca sem lastro e divulgada de forma muito estranha.
O que o eleitor pode ver é uma direita e uma esquerda igualmente divididas.
Quando Luiz Fernando Machado foi confirmado candidato tucano, Ricardo Benassi saiu do PSDB rumo ao PPS pra garantir seu espaço.
Foi apenas o lance final de uma ruptura que já havia acontecido no segundo turno das eleições 2012. O grupo Benassi-Haddad, que dominou a política local por mais de 20 anos, se dividiu e perdeu o poder pro grupo de Bigardi.
O desgaste continuou até o momento da escolha de Luiz Fernando Machado. E só vem crescendo. O clima é tenso.
Os antigos colaboradores do grupo Benassi-Haddad hoje estão divididos entre Luiz Fernando Machado e Ricardo Benassi. Qual o tamanho do estrago que a candidatura de Benassi pode causar na direita é outra incógnita da campanha que só será desvendada depois de abertas as urnas.
No quadro turvo que se vê hoje, uma certeza: haverá segundo turno.
Se a direita entra dividida, a esquerda faz uma disputa complicada.
PSOL, com Paulo Taffarello, marca posição e aproveita espaços para apontar as contradições dos outros candidatos. O PT, com Marilena Negro, busca os votos de legenda pelo menos suficientes para eleger dois vereadores.
E o PCdoB preferiu ficar com Pedro Bigardi.
Ibis Cruz, no outro extremo e num caminho próprio, também está na disputa.
Ainda há pouco mais de uma semana de campanha mas, a não ser que haja algo muito inesperado, o cenário não deve mudar muito.
Abertas as urnas é que teremos uma ideia de quais alianças irão se formar para o segundo turno. De qualquer forma, não vai ser uma disputa fácil.
Vamos acompanhar.
Mas não pela tevê.