Share This Article
Com custos bancados pela iniciativa privada, um viaduto de quase 50 anos entre os bairros da Vila Rio Branco e Centro, na cidade de Jundiaí (SP), está recebendo intervenções arquitetônicas para ajustar-se melhor ao conceito mundial “walk friendly”, ou amigável aos pedestres.
O viaduto Joaquim Candelário de Freitas, sobre os antigos trilhos da Companhia Paulista de Estradas de Ferro que cruzam a região central da cidade, foi construído no final da década de 1960 – depois do viaduto São João Batista na década de 1950 e praticamente na mesma época do viaduto Sperandio Pelliciari.
Classificado como “obra de arte” na engenharia, o viaduto substituiu a passagem de nível sobre os trilhos que ligada a antiga estrada de Itatiba com as ruas Abolição e Prudente de Moraes.
Mas o aumento do fluxo de veículos na virada do século XX para o século XXI gerou reformas que “isolaram” a passagem de pedestres atrás de enormes blocos de concreto, impedindo sua transposição entre os dois lados e marcando um ambiente inóspito para eles.
A etapa inicial da intervenção consiste em três blocos descontínuos de estruturas metálicas geométricas sobre a calçada do lado norte, que será seguida pela instalação de floreiras marcando uma referência verde para o conjunto (e também para o canteiro central entre as vias de veículos, que atualmente não é mais usado pelos pedestres).
Os estudos prévios do projeto também envolvem uma pintura urbana moderna no lado externo dos blocos de concreto e a sinalização na calçada do lado sul para o uso compartilhado de pedestres e ciclistas.
A nova configuração do viaduto amplia a aplicação desse conceito iniciada pela arquiteta e urbanista Daniela da Camara em sua passagem pela Secretaria Municipal de Planejamento e Meio Ambiente com o projeto-piloto Urbanismo Caminhável, que trouxe para Jundiaí os primeiros testes de “parklets” em cidades médias, possibilidades de novos mobiliários urbanos para pedestres e estudos sobre critérios técnicos para ampliação da caminhabilidade (“walkability”) nas políticas públicas de mobilidade.
A viabilização do projeto pela iniciativa privada, com a busca de benefícios para a comunidade sem custos ao orçamento municipal, também é uma decorrência da aplicação adotada desde 2013 pela Prefeitura de Jundiaí do EIV (Estudo de Impacto de Vizinhança), um dos instrumentos urbanísticos ampliados na versão mais recente e participativa do Plano Diretor.
É o mesmo mecanismo que viabilizou, por exemplo, a reforma com rampas acessíveis do Escadão, no Centro, as correções do trecho final da avenida Nove de Julho, no trecho próximo das futuras alças de acesso da via Anhanguera, ou do Parque do Engordadouro, no bairro de mesmo nome, em mais de R$ 30 milhões de investimentos adicionais na cidade ao longo de quatro anos e muitos outros em andamento ou tramitação para as futuras gestões municipais.
No caso do viaduto Joaquim Candelário de Freitas, a intervenção de melhoria do ambiente de uso para pedestres em particular e estético para a cidade como um todo compensa a perda de outras passagens antigas de pedestres sobre os trilhos entre as regiões da Vila Rio Branco e Vila Municipal, que acabaram sendo fechadas pela Prefeitura em demandas da comunidade por razões de segurança.
Além de moradores do entorno, o projeto deve beneficiar usuários de serviços próximos (como cartórios) que ficaram mais distantes para o transporte coletivo originário de algumas regiões da cidade com a retirada de um ponto de ônibus que funcionava no próprio viaduto até a década de 1990.
O projeto arquitetônico foi desenvolvido por Thaísa Fróes e Guilherme Ortenblad, do escritório Zoom — Urbanismo, Arquitetura, Design , que também atuaram no projeto-piloto Urbanismo Caminhável, revisado por servidores públicos do município.