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Nessa maré de fatos que remetem o Brasil e o mundo ao tempo das trevas, o presidente norte-americano Donald Trump anuncia a saída do Estados Unidos do Acordo de Paris, o tratado climático costurado pelas principais nações do planeta durante longo anos.
Parece coisa distante para quem mora na Terra da Uva e da Serra do Japi, mas não é não. O clima do planeta não vê fronteiras e o que se polui aqui reflete acolá. Piauí, Jundiaí, tanto faz. Se os Estados Unidos, o principal poluidor da Terra decide cair fora do acordo, os efeitos seguramente vão impactar na vida de quem mora por aqui.
Efeitos, diga-se, que já são perfeitamente perceptíveis por aqui.
O presidente francês Emmanuel Macron lançou no Twitter uma imagem com o slogan ‘Make Our Planet Great Again’. Em inglês mesmo — gesto raro para um político gaulês, mas cuidadosamente construído para o público mundial que acompanha as redes.
Respondia ao impensável: seu par americano, Donald Trump, anunciou que os EUA estão deixando o Acordo de Paris sobre o Clima. Ainda assim, Trump apenas cumpriu uma promessa de campanha: afirma que o tratado custa empregos em seu país.
E seu slogan, ironizado por Macron, é ‘Make America Great Again’.
A saída, no entanto, não é imediata — como o acordo já foi assinado, há uma série de passos a seguir, e o processo leva anos. A desistência em definitivo só ocorrerá em 4 de novembro de 2020, quando o sucessor de Trump já tiver sido eleito. Por isso mesmo, o tema deve aumentar em relevância na campanha eleitoral.
O canal Meio fez um resumo da encrenca que isso significa.
O Acordo de Paris prevê que todos os signatários — 195 países, incluindo o Brasil — terão metas para reduzir a emissão de carbono, causador das mudanças climáticas. No caso americano, o objetivo era chegar a 2025 emitindo algo entre 26% e 28% menos do que os níveis registrados em 2005. Alguns dos estados mais ricos dos EUA têm legislação ambiental rigorosa e progressista. Inclui Nova York e Califórnia — isto não mudará.
Mesmo assim, a queda ficará aquém do previsto, entre 15% e 19%. Parte do acordo incluía ainda o pagamento, pelos EUA, de US$ 3 bilhões em ajuda para que países pobres possam se adaptar a novas fontes de combustível e coibir o desmatamento. Durante o governo Obama, US$ 1 bilhão deste montante seguiu seu destino.
Trump não pagará o resto da conta. E o principal custo da decisão para os EUA pode ser justamente na economia. Há uma corrida tecnológica limpa em curso, e companhias chinesas e europeias têm apoio e subsídios de seus governos. (New York Times)
A saída dos EUA do acordo gerou uma onda de reações mundo afora. Lamentaram a decisão Tim Cook, da Apple, Elon Musk, da Tesla, cientistas, ativistas, o Vaticano, Hilary Clinton e até Arnold Schwarzenegger. O Guardian vem compilando as reações desde ontem, em tempo real.
Não adianta culpar apenas Trump: seu Partido Republicano é a única grande força política ocidental que não aceita a ciência por trás das mudanças climáticas. Uma pesquisa de outubro do ano passado mostra como o país está rachado: 70% dos democratas à esquerda dizem acreditar nos cientistas; apenas 15% dos republicanos à direita fazem a mesma afirmação.
A resistência: três governadores, 30 prefeitos, 80 reitores de grandes universidades e mais de 100 empresas dos EUA estão se organizando para compensar os esforços e cumprir as metas americanas. (New York Times)
Uma lista: cinco efeitos globais da decisão de Trump. Do enfraquecimento do Acordo de Paris ao ganho de protagonismo da China.
Enquanto isso, na Antártida… Uma rachadura na maior plataforma de gelo do continente cresceu de forma acelerada e mudou radicalmente de rumo, no mês passado. A fenda aumentou 16km e fez uma curva, movimento que pode adiantar o descolamento do imenso iceberg — ele mede o equivalente a 500 mil campos de futebol.
Embora seja um fenômeno geográfico, e não climático, os cientistas concordam que o aquecimento global pode, sim, apressar a ruptura do bloco de gelo
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