Share This Article
Quando li O Ponto de Mutação (The Turning Point), de Fritjof Capra no início dos anos 80, percebi, pela primeira vez, que algo estava se transformando profundamente e que eu vivia e viveria essa transformação durante o tempo de minha vida.
No início do livro, Capra, cita um ideograma do I Ching, outro livro que passou desde então a fazer parte de meu compreender o mundo.
Ao término de um período de decadência sobrevém o ponto de mutação. A luz poderosa que fora banida ressurge. Há movimento, mas esse não é gerado pela força… O movimento é natural, surge espontaneamente. Por essa razão, a transformação do antigo torna-se fácil. O velho é descartado, e o novo é introduzido. Ambas as medidas se harmonizam com o tempo, não resultando daí, portanto, nenhum dano.
Passados tantos anos minha pergunta hoje é: em que ponto do Ponto de Mutação estamos?
Capra havia escrito antes O Tao da Física, onde mostrava a conexão entre a filosofia oriental e a física quântica.
Em Ponto de Mutação, ele indicava um caminho. Uma rota. De um mundo petróleo-centrado para uma nova realidade solar.
Venho seguindo essas pistas e procurando não só ampliar minha forma de perceber, mas refinar minha forma de agir, não só no pensar, mas na prática, buscando respostas.
No que consigo perceber até agora é que estamos, enquanto Humanidade, mais perto de compreender que somos Um. Que somos parte do mesmo mundo e que não existe Plano B para o planeta Terra.
Obviamente, há graus de percepção, mas é inegável que existe hoje uma massa crítica capaz de compreender que estamos no final de um ciclo. A conexão via redes tornou esse percepção mais clara.
A força do pensar coletivo
Se por um lado, enquanto boa parte dos humanos luta ainda pela mais básica sobrevivência, e um pequeno e cada vez mais restrito grupo de pessoas concentra o poder, há uma grande corrente de pensamento e ação cada vez mais interligada que aponta para novos caminhos.
Sinais que posso observar, quando olho as ações no Planeta, mostram uma tendência para uma vida mais colaborativa. Sim, não será fácil, nem rápido, mas há sinais. Sinais de que estamos no ponto de mutação, e mudando.
Você que está lendo aqui provavelmente esta conectado a algum aparelho que tem alguma ação coletiva, pois no mundo dos softwares a colaboração é essencial para o desenvolvimento.
Vejo também um movimento em direção a uma vida mais simples. Simples não nos moldes de voltar pra roça apenas. Mas de viver a vida simples com consciência. É o que a Permacultura, os movimentos agroflorestais, os trabalhos de regeneração de terras e muitos outros vêm mostrando.
Uma cultura do “descrescimento” voluntário, onde o tempo tem maior valor que o dinheiro. Coisas como o pensar bicicleta, comida natural plantada na própria casa ou comprada (trocada, quem sabe?) com vizinhos, menos consumo.
Há inúmeras experiências bem sucedidas. Hoje já não se trata mais de um velho pensamento hippie, mas de uma constatação, para muitas e muitas pessoas, de que existe um mundo, bem melhor, fora da Matrix.
Uma idade solar que se inicia
Esse pode ser o caminho, a troca de experiências entre essas múltiplas experiências na construção de uma consciência coletiva. Afinal de contas, não é preciso ser muito sabido pra perceber que sem uma transformação profunda na forma em que vivemos como sociedade, nosso futuro será de plástico em terra arrasada.
Essa conscientização, obviamente, acontece de forma desigual. E estamos falando de valores. Não apenas de oportunidades. Por isso é um ponto de mutação, o velho vem sendo descartado e o novo está chegando.
O que pode fazer a transformação é a consciência. E cada um tem seu caminho, cada um com seu grau de compreensão. E suas necessidades.
Como imaginar que, ainda hoje, 2020, derrubamos árvores milenares para fazer bancos com sua nobre madeira e abrir espaços para plantar soja ou criar gado? Que incapacidade ainda temos, humanos que somos, de compreender o verdadeiro valor de uma floresta?
Mas, aos poucos, a luz chega. A idade solar vem se apresentando.
Se não são muitos, já são alguns tantos a perceber que há valores mais importantes que carros novos, roupas e coisas de comprar. Precisamos do necessário, mas apenas o necessário.
Que futuro poderemos ter?
Continuo estudando e vivendo. Observando.
E observar, acredito, talvez seja o princípio fundamental. É da observação que podemos perceber o que nos rodeia. Olhar com calma para as plantas que crescem em um terreno nos indica caminhos para restauração.
Compreender nossos hábitos. Observar nossos pensamentos.
Mas ir além da observação e refletir. Vejo esse como um caminho. Não único, pois para que as coisas se transformem é preciso ação. E a primeira ação é a nossa própria transformação.
John D. Liu afirma que não é preciso que toda a Humanidade perceba que um outro caminho é necessário. Basta que se tenha uma massa crítica, ou seja, um número suficiente de pessoas capazes de agir conforme essa nova consciência, para que a mudança aconteça.
Ouço alguns dizendo que depois da Pandemia o mundo não será mais o mesmo, pois os valores terão se alterado para sempre.
Tenho dúvida.
Há uma grande ilusão coletiva buscando a volta do normal. Um normal que, ao meu ver, faz parte de um passado mais distante a cada dia, mas que ainda encantada a uma boa parcela da sociedade.
Mas tenho a certeza de que uma semente está plantada, definitivamente. E que, no seu devido tempo, no caminhar natural das coisas, muitos mais vão perceber que as coisas de valor não são coisas.