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O maior desafio que enfrentamos é mudar a consciência humana, não salvar o planeta. O planeta não precisa ser salvo, nós precisamos.
A frase de Martinez, jovem ativista norte-americano, resume o desafio que temos pela frente. Ele faz parte da geração Greta Thumberg e tantos outros jovens que já se ligaram que a transformação verdadeira só vem mesmo pela tomada de consciência.
Escrevendo daqui, do Brasil 2020, onde a tragédia se mostra a cada shopping reaberto, parece utopia pensar em um novo mundo. Mas, como lembra Belchior, o novo sempre vem.
Não se pode mudar a consciência do outro, mas é possível a cada um transformar a si mesmo. E, ao mudar, passar a enxergar a vida — a própria e a do Planeta — com outros olhos.
E mudar é atitude. Depende de cada um perceber e dizer: não quero mais isso pra mim.
A nova geração de ativistas tem energia e liderança. Estão conectados globalmente. E sabem quem são os verdadeiros responsáveis pela degradação do planeta e da vida na Terra.
Me inspiro neles.
Now our minds are one (Agora as nossas mentes são uma)
Thanksgiving Adress — Greetings to the Natural World
Talvez essa seja a principal transformação em curso: há, realmente, bem aos poucos, uma tomada global de consciência. Mesmo que ela não aconteça de forma uniforme, existe algo novo acontecendo.
Se, por um lado, a interconexão de pessoas via digital, especialmente por celular, permite um altíssimo grau de manipulação por parte dos setores dominantes, ela também amplia a capacidade de percepção. Devagarinho, uma coisa vai se ligando à outra e, em algum momento, chega uma nova compreensão.
Afinal, nem é assim tão difícil perceber. Basta juntar o pontos e se ligar que são apenas alguns poucos os que ganham com a realidade atual.
É isso que muitos ativistas (novos ou de muito tempo de estrada) estão dizendo: não há espaço para uma sociedade autodestruidora no planeta Terra. A Terra, no entanto, se regenera em poucos milhares de anos, mas sem equilíbrio não há lugar para humanos por aqui.
O que ainda é complicado para muitos — que lutam pela sobrevivência diária em ônibus lotados e condições precárias de trabalho –entender é que suas atitudes contribuem também para essa degradação, mesmo de forma involuntária. E mais complicado ainda é encontrar meios para sair do aprisionamento mental, da pobreza econômica e de uma vida sem esperança.
A resposta é que precisamos pensar em um mundo onde o interesse de todos os humanos seja prioridade. Hoje pensamos nações, essa abstrata forma de dividir humanos; pensamos povos. Pensamos raças, cores, sexos, preferências, times de futebol. Mas, na realidade, somos todos humanos, parte da mesma Humanidade e habitamos o mesmo planeta.
Já escrevi isso muitas e muitas vezes, mas a cada dia percebo que é esse mesmo o caminho. Pensar humanos. Não há outros. Só existe o nós, os seres humanos.
Obviamente, pensar humano é resumir. Somos humanos em um ecossistema planetário. Interconectados entre nós e aos animais e plantas e minerais. Não tem lado de fora. Estamos todos dentro.
E é justamente isso que os detentores do poder tentam mascarar de todas as formas possíveis a realidade de que somos um. E estamos juntos.
Mas para que esses poucos consigam exercer o poder é preciso dividir o mundo em brancos e pretos, homens e mulheres e todos os gêneros, velhos e crianças, jovens e adultos, chineses e africanos, ricos e pobres e assim vai.
Só que não é verdade. Pois não somos ucranianos, somos humanos. Não somos pretos (ou brancos) somos humanos. Não somos argentinos, somos humanos. Seres humanos muito mais iguais do que imaginamos.
Por isso que transformar nossa consciência é pensar como humanos.
E se falta água na casa do vizinho isso me afeta. Se falta comida para o morador de sua isso me afeta. Se existe um morador de rua isso tem a ver comigo também.
Quando jovens ativistas dizem que as atitudes da sociedade atual comprometem o futuro da geração deles, estão certos. E não estou falando de conhecimento (apenas) de livros, mas da minha própria percepção.
Basta ver o nível do mar — perceptível na cidade onde nasci, Santos. Ou na temperatura de um junho quente nos arredores de São Paulo onde vivo hoje e onde, quando criança, vivi muitas e muitas geadas. A crise climática é real. E ela afeta todos os sistemas do planeta.
A crise mais visível hoje é a do coronavírus, mas ela não é nem a maior e nem a única.
É uma crise que trouxe uma urgência, pois pessoas morrem. E pessoas que morrem deixam saudades, deixam famílias. São pessoas com nome, sobrenome e história.
No Brasil, especialmente, ao que parece vivemos uma sociedade entorpecida, onde a morte não causa mais espanto. Escrevendo hoje, dia 14 de junho, quando já são mais de 40 mil mortes e há aglomerações em shoppings, me pergunto: o que é que está acontecendo?
Infelizmente, a explicação que encontro é que talvez seja mesmo preciso a tragédia para transformar as consciências.
Sinceramente, não tenho grandes esperanças de que essa transformação aconteça no curto prazo — basta ver que mesmo com o aumento do número de casos as pessoas deixaram de se cuidar ou nem se cuidaram mesmo.
Nem perco meu tempo para falar de atitudes de governantes. Cada um que veja por si.
O Brasil vive uma espécie de infância social, onde a sociedade espera um painho, um iluminado ou um herói qualquer que venha prover aquilo que ela mesma precisa trabalhar e construir para ser.
Não resolve. Não tem salvador. Não tem milagre.
É um país que vai precisar ainda de muitos anos para amadurecer.
E isso quando se fala de um cenário de algo urgente, onde morre mais gente do que numa guerra. No Brasil, campeão de homicídios, campeão de mortes no trânsito, no entanto, a morte de gente doente não comove. Especialmente se não for alguém conhecido ou da família.
Que dirá pensar em alterações climáticas ou modelos econômicos.
Mas não pensar não quer dizer ficar e fora. Não tem fora. Os resultados da ação de muitos atingirão a todos. Indistintamente. Tal qual o vírus, que não escolhe nacionalidade, idade ou preferência sexual, o desgaste dos recursos naturais tem consequências para todos. Afeta todo o ciclo do planeta.
E temos apenas os mesmos recursos que já estavam aqui no início da Humanidade. O que temos está aí — ou aqui.
O novo, no entanto, está chegando. Quem sabe um despertar?
Existe essa nova geração para quem carros são supérfluos, shoppings são extravagâncias, comprar demais é cafona. Estar na moda é fora de moda. Uma geração que sabe, como já disse antes, quem são os verdadeiros responsáveis por toda essa meleca.
E não é tão difícil assim de perceber. Basta usar uma velha técnica jornalística de investigação:
Siga o dinheiro.
Foto de abertura gerada por IA