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Anotei num antigo caderno, que já não tenho mais, uma frase que seria atribuída ao pensador francês Andre Malraux:
A história é escrita por aqueles que dizem não
Procurei essa frase entre os muitos escritos de Malraux publicados na Internet, mas não a encontrei. De qualquer forma, essa frase está na minha cabeça e faz sentido pra mim hoje.
Pois está mais do que na hora de dizer não e fazer história.
E alguns nãos estão aparecendo, devagarinho, mas começa a se desenhar uma reação.
O liker é um NÃO ao Facebook
Uma alternativa nas redes sociais. Uma rede social que tem como proposta voltar à essência das redes: conectar pessoas & ideias.
O CoopCycle é um NÃO aos aplicativos de entrega
No Brasil, greve dos Rappis, em 1º/7. Na Europa, cresce a CoopCycle, rede de cooperativas de entrega. Com a mesma tecnologia das grandes plataformas, vem com itens a mais: solidariedade, proteção e direitos sociais
O Bookshop é um NÃO a Amazon
Comprar livros e ao mesmo tempo fortalecer as pequenas livrarias. Algo que, definitivamente, a Amazon não faz.
São pequenos exemplos de que algo novo pode surgir. Está surgindo.
Assim é Linux.
O movimento do software livre.
A produção de alimentos em casa.
São NÃOs ao um sistema que oprime e aliena.
E é mais do que necessário dizer não.
E dizer não é encontrar alternativas.
O momento é de um basta a um sistema que contempla poucos.
No Brasil, esta semana Senado aprova lei da privatização dos sistemas de água — e a lei cria a figura jurídica da empresa produtora de água. Produtora de água? Não mesmo.
Na mesma semana, a curva de contágio do vírus cresce, o número de mortos também. No mundo todo aparecem novos focos. Ainda não acabou e nem se sabe como e quanto acaba.
A irresponsabilidade e a pressão econômica colocam as pessoas nas ruas.
O Ártico registra a temperatura mais alta desde sempre: 38 graus. Assustador. E o que está acontecendo lá nos afeta a todos.
Portanto, que volta é essa ao normal de que tantos falam? Que normal é esse?
Acham normal alguém achar que outra pessoa vale menos porque é preto? Ou árabe? Branco ou japonês, chinês, baiano ou argentino? Ou porque escolheu uma opção afetiva-sexual diferente da sua? Como é isso? Só existe raça de humanos no planeta, a raça humana, que ainda pra ser humana precisa caminhar muito.
Examino o que mais está faltando para que muitos compreendam que a água vale mais do que dinheiro. Que floresta em pé é mais valorosa que um campo de soja.
Pra mim, parece tão claro que um mundo onde existe injustiça não faz felicidade. Comprar bagulhos reluzentes em shopping não é a solução para ser feliz. Muitos tem muito pouco e alguns tem muito mais do que precisam.
Qual o sentido disso?
Uma vida tem 80 a 90 anos, talvez. É o tempo que temos por aqui. Que estamos fazendo com esse tempo? Acumulando coisas? Nada, absolutamente nada material vamos levar daqui.
Levaremos apenas o que ficar gravado na memória do espírito.
E a memória é gravada com amor. O que fizermos com amor ficará gravado para sempre. Nossos erros também, obviamente. Mas somos os únicos responsáveis por eles, por nossa vida. Podemos escolher então o que gravar, o que fazer com nosso tempo aqui na Terra.
Depende de nós. De cada um de nós.
Depende, muitas vezes, de dizer não para o que não queremos.
Depende de ter coragem para olhar dentro de si e seguir o que coração manda. O coração espiritual que revela nossa verdadeira missão aqui.
Dizer não para convenções tolas. Não para distrações. Falsos brilhos.
Olhar verdadeiramente de perguntar: quem sou eu? O que estou fazendo aqui? E a partir daí escrever a própria história, original e única.
Viver e não deixar a vida passar.
Esse mundo da humanidade é precioso para mostrar o real valor das coisas — mas é preciso querer ver.
O tal normal não volta mais.
Ainda bem.
Pois não pode ser normal um mundo onde exista tanta desigualdade e sofrimento.
Não precisa ser assim.
Está sendo assim porque senhores do poder e do dinheiro querem poder e dinheiro cada vez mais — a ganância não tem limites. E eles tem os meios de domínio.
Mas, mesmo assim, é possível dizer não.
Empresas viraram pó em poucas semanas de Pandemia. Airbnb é uma delas. Tudo muda o tempo todo. E rápido.
O Facebook, essa nefasta rede global de desinformação, perde bilhões em alguns dias boicotado por anunciantes insatisfeitos e inspirados pelo Stop Hate For Profit (pare de dar lucro ao ódio, em tradução livre).
Um NÃO coletivo transforma.
E já não passou da hora que muitos dizerem NÃO juntos?
Eu digo NÃO.
Não.
Pois me importo. Minha vida está conectada. E o sofrimentos dos outros me faz sofrer também.
Não.
Não.
O que está errado está errado.
E eu quero estar do lado certo da história.
Fotos from Pixabay