Bruno Galiego
Muitos de nós, desde de pequenos, fomos ensinados a ter certos cuidados. A curiosidade pelo “novo” fez com que aprendêssemos o que é “certo” e “errado” para nós.
Na maioria das vezes, as definições destes dois conceitos são passadas para nós através dos nossos pais observando nossas ações.
Esses dois conceitos tão distantes, mas tão próximos ao mesmo tempo, servem para enaltecer um fator: o medo.
O medo está ali, implantado na mente de quem recebe e compartilhado por outra pessoa que sente mais medo ainda. Criou-se uma cultura. O medo é cultura. Financiado, divulgado, é algo normal, é rotineiro em qualquer esfera social.
Essa cultura fez com que as pessoas se trancassem em casa, o espaço público tornou-se um local negativo.
Nossas Mães e Pais reproduziam muito bem isso. “Menino, não fique na rua que é perigoso”, eles diziam. Mesmo quando você queria somente encontrar uma galerinha e ficar de boa na calçada jogando bolinha de gude.
É possível compreender a preocupação que as pessoas sentem ao caminhar em praças, ruas e vielas, mas não deveria ser assim.
Infelizmente, por causa de todo esse caos construído e implantado em nossas mentes, o lado privado da coisa teve ascensão.
Tecnologias foram criadas, grandes muros foram construídos e até a cultura que, um dia foi chamada de “popular” foi trancafiada em clubes caros.
Lugar seguro para fazer um rolê, só se for o shopping center. A “segurança” passou a ser a “liberdade” das pessoas.
Com todas as características negativas, as ruas, perderam o poder de mudança e consequentemente tornou-se um local – supostamente – violento.
Felizmente, em meio ao cenário “maravilhoso” promovido pelo ambiente privado, as pessoas – principalmente aquelas que não “desfrutam” deste mundo – utilizam a mais pura criatividade para promover ações culturais em locais públicos.
Sim, ocupam praças com uma variedade imensa de informação que são compartilhadas por meio de música, pintura, dança, fotografia, pequenas exposições e debates. Tudo muito simples, de pessoas para pessoas, de graça.
Toda essa reação é encabeçada por um fator se fortifica cada vez mais: a diversidade. Gente que se cansou de divisões, rótulos, gêneros e tudo aquilo que de alguma forma cai no conceito de comparação ou naquela velha – e chata – questão do “o meu é melhor”.
As pessoas perceberam que, o espaço público, é um lugar de união e não de discussões sobre supostos inimigos. O ato de sair às ruas vem sendo redescoberto pelos cidadãos.
E o medo? Imagine, medo de quê? De skatistas? Das pinturas feitas por artistas? Dos Rappers? Ah tá, é da rodinha Punk? Pare com isso. É a cultura, lembra!? Ela voltou para as ruas.
E junto com essa onda de valorização do espaço público as ciclovias e ciclorotas, os parklets e os eventos voltados para o bem-estar fortalecem ainda mais os laços entre cidadãos e espaços públicos.
O medo causado – e financiado direta e indiretamente – pelas desigualdades econômicas mudou o espaço público das cidades. Agora, a rua voltou a ser um local de encontro, de diversão, de protesto e liberdade de expressão.
Para alguns é algo novo e precisa, urgentemente, ser descoberto.
Se você participa ou já participou, incentive outras pessoas, mostre este novo mundo, sem medo, sem insegurança.
O espaço público nos pertence e se alguém se incomoda com isso, que vá desfrutar das “maravilhas” que o mundo privado oferece, ao invés de reclamar e dar “pitácos” sobre algo que não soube valorizar.
Nós perdemos o medo.
*Bruno Galiego é jornalista e vocalista da banda Boca de Lobo, onde é conhecido como GaliegoxEdge
#ocupapontetorta
Domingo, 28 de fevereiro. Praça Erazê Martinho.
Das 15 às 22 horas
Foto de abertura: Lucas Castroviejo