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Arquitetura e Urbanismo no Século 21: Uma Conversa com Araken Martinho

O arquiteto e urbanista Araken Martinho discute os desafios enfrentados por Jundiaí no contexto da globalização, destacando a importância do território, da sustentabilidade e da cidadania como pilares para um futuro melhor.

Jundiaí no Contexto da Globalização

A cidade de Jundiaí, conhecida por sua história e vocação industrial, passou por transformações profundas nas últimas décadas. Para Araken Martinho, essas mudanças são reflexos diretos da globalização, que alterou completamente o papel das cidades.

“A cidade mudou completamente o jeito de ser”, afirma Martinho. “Na realidade, a globalização chegou aqui. As indústrias todas foram embora. Cadê a Cica? Cadê a Vulcabras? Cadê a Vigorelli?”

Ele explica que hoje Jundiaí faz parte de um processo de produção internacional: “Nós podemos estar fazendo aquele arzinho só e aquele arzinho é mandado para um certo lugar onde se produz a máquina.”

Essa nova dinâmica, segundo ele, exige um repensar do planejamento urbano.

“Não dá para pensar nessa questão do trabalho porque ela tá fora daqui. Quem comanda isso aqui é a grande firma que está sendo gerida por Nova York ou Paris.” Assim, o foco deve ser proteger o território local e garantir qualidade de vida para seus habitantes.

Território e Sustentabilidade: A Base para o Futuro

Martinho enfatiza que o cuidado com o território é essencial para o desenvolvimento sustentável de Jundiaí.

“O que nós temos de real é o território de Jundiaí. Então, eu tenho que pensar na terra, na floresta, na Serra do Japi, na poluição ambiental. Essas coisas são fundamentais para a sobrevivência do homem como ser civilizado.”

Um exemplo marcante citado pelo arquiteto é a gestão da água. Apesar de Jundiaí ser reconhecida por suas políticas hídricas, Martinho alerta para os riscos:

“A gente tomou o cuidado de fazer uma represa para receber água, mas o nosso Rio Jundiaí-Mirim é um pequeno ribeirão. Isso quer dizer que estamos a perigo.” Ele defende a necessidade de preservar as nascentes e cuidar do solo para evitar que a água se perca.

Outro ponto destacado é a despoluição do Rio Jundiaí e a preservação da Serra do Japi. “Esses projetos mostram que há um cuidado sério com o território. Isso é essencial para garantir qualidade de vida às pessoas que moram aqui.”

Cidadania e Vizinhança: A Força da Comunidade

Para Martinho, a cidadania é um dos pilares para construir cidades mais humanas e sustentáveis. Ele destaca que, em Jundiaí, as periferias têm um papel fundamental nesse sentido. “A periferia é o local onde mais a cidadania se organiza, onde as pessoas conhecem as pessoas e cuidam do seu espaço.”

Por outro lado, nos centros urbanos densamente povoados, a convivência é mais frágil.

“Em um prédio de apartamentos com 20 andares e 40 apartamentos, dificilmente cinco caras se conhecem. Você não sabe quem mora no seu prédio, não cumprimenta seu vizinho porque não o conhece.”

Esse distanciamento social, segundo Martinho, reflete uma tendência preocupante: a transformação do ser humano em consumidor.

“É muito fácil você pular do ser civilizado para o ser consumidor. Eu valho pelo que eu compro, pela roupa que eu visto, pelo restaurante que eu frequento. Esse cidadão entre aspas deixou de ser cidadão.”

O Papel do Empresariado e do Planejamento Urbano

Martinho reconhece que o empresariado tem um papel importante no desenvolvimento de Jundiaí, mas alerta para os riscos de excessos.
“Se você encher Jundiaí de prédios, ela vai perder sol, terá carros demais nas ruas e matará a galinha dos ovos de ouro.”

Ele lembra ainda de um episódio emblemático envolvendo a criação da PROEMPI (Associação Pró-Empreendedores de Jundiaí) e as palavras de José Benassi , empresário histórico na cidade.

“Quando foi criada a PROEMPI, tinha como intenção juntar os construtores de prédios em Jundiaí. Mas José Benassi alertou: ‘Minha gente, tomem cuidado. Vocês vão matar a galinha dos ovos de ouro se encherem Jundiaí de prédios. Deixem de ter sol, vão ter carro demais na rua.'”

Benassi continuou, lembra Araken: “Aquilo que é muito bom pode ficar ruim se vocês forem muito ambiciosos.” Essa advertência, segundo Martinho, é um lembrete para que os empresários compreendam que o crescimento desenfreado pode comprometer a qualidade de vida da cidade.

Ele defende que os empresários devem equilibrar lucro e responsabilidade social.

“Os empresários de São Paulo fizeram aquela confusão na periferia e no centro porque estavam pensando apenas no mercado. Mas eles gostam muito mais de Paris, onde os parques estão preservados até hoje.”

Um Chamado à Reflexão

Para Martinho, o futuro de Jundiaí depende de um planejamento urbano que valorize o território, promova cidadania e preserve o meio ambiente.
“Se conseguirmos criar cidadania e entender que somos todos responsáveis pela terra, acabou. Já está feito tudo. A hora que isso entrar na cabeça, o mundo tem jeito.”

Com visão crítica e otimista, Araken Martinho reforça que o desafio está em agir agora, antes que seja tarde demais.

“Temos a oportunidade de reinventar nossas cidades. O que falta é vontade política e engajamento da sociedade.”

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