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Brasil enfrenta o ‘março mais triste’ da pandemia, lamenta Margareth Dalcolmo

O Brasil atravessa um dos momentos mais sombrios desde o início da pandemia de covid-19, com hospitais lotados, sistemas de saúde colapsados e números alarmantes de novos casos e mortes.

Para a pneumologista Margareth Dalcolmo, pesquisadora da Fiocruz e uma das vozes científicas mais ativas no enfrentamento à crise sanitária, estamos diante do “março mais triste de nossas vidas”. Em entrevista recente concedida à BBC News Brasil, ela analisou o cenário atual da pandemia no país e apontou as falhas que nos trouxeram até aqui, além de destacar caminhos urgentes para tentar conter o avanço devastador do vírus.

A médica alerta que o recrudescimento da pandemia no Brasil não é surpresa. “As medidas de controle sanitário foram controversas e ineficientes por um longo tempo”, afirmou. Sem uma coordenação nacional eficaz e com mensagens contraditórias vindas das autoridades, o país assistiu a uma série de eventos que culminaram na atual crise. As festas de fim de ano, o Enem, o Carnaval e o cansaço generalizado após um ano de pandemia contribuíram para o aumento exponencial de casos.

Dalcolmo também chamou atenção para a gravidade da transmissão viral acelerada. “Ela é o principal mecanismo propiciador do surgimento de novas variantes”, disse, referindo-se ao aparecimento de cepas como a identificada inicialmente em Manaus, que já se espalhou por outras regiões do país e até internacionalmente. A cientista ressaltou ainda que a única solução para controlar a pandemia é a vacinação em massa, mas a campanha brasileira está aquém do necessário.

A situação em Manaus, epicentro da crise no início de 2021, ilustra bem os desafios enfrentados pelo país. A capital amazonense sofreu com um colapso no sistema de saúde, tornando-se um exemplo do que acontece quando medidas restritivas são negligenciadas e a desigualdade social é ignorada. “A covid-19 revela a intolerável desigualdade brasileira”, afirmou Dalcolmo. “Quem morre no Amazonas é pobre e indígena. A classe média alta foi embora para se tratar nos hospitais do Sudeste.” Ela criticou a falta de planejamento logístico, como a dependência de um único fornecedor de oxigênio, o que agravou a tragédia local.

Ao falar sobre o papel da vacinação, Dalcolmo enfatizou que o Brasil precisa vacinar 70% da população até junho, não setembro, como está previsto atualmente. O gargalo, segundo ela, está na escassez de doses e na falta de investimentos em vigilância genômica, essencial para monitorar a eficácia das vacinas contra novas variantes. A especialista defendeu parcerias com o setor privado, mas com limitações claras. “Sou totalmente contrária à compra de vacinas pela iniciativa privada. O que precisamos é de uma vacina comprada pelo Governo Federal, com apoio empresarial apenas em questões logísticas”, explicou.

Diante do cenário caótico, Dalcolmo fez um apelo emocionado à sociedade. “Estamos num momento muito grave, muito mais sério do que o primeiro pico”, disse. “As pessoas precisam entender que tudo isso já era esperado, por mais que não desejássemos que acontecesse.” Ela reforçou a importância do uso correto de máscaras, do distanciamento social e de medidas mais drásticas, como lockdowns rígidos. “Não adianta ser anárquico e desafiar uma ordem biológica que não é favorável a nós”, declarou. “Ou nos comportamos agora ou colaboraremos com a piora dessas estatísticas terríveis, que mais parecem filmes de terror.”

Dalcolmo concluiu sua fala com um alerta direto: “Quantas vezes eu disse coisas nessa pandemia e gostaria de estar errada… Parece que estamos numa crônica de morte anunciada.”

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