Os representantes do Fórum Regional do Comércio, Indústria e Serviços de Jundiaí (FORCIS) criticam o que chamam de víes ideológico do novo Plano Diretor que, se aprovado da forma que está proposto no projeto de lei enviado à Câmara Municipal, afetaria o desenvolvimento da cidade.
Para o FORCIS, ao restringir construção e privilegiar a agricultura que, segundo o Fórum, representa apenas 0,3% da economia municipal, o novo Plano Diretor pode causar uma retração da economia local e diminuir a perspectiva de crescimento no longo prazo.
Durante a reunião desta terça-feira, (31) na comissão da Câmara Municipal criada especialmente para analisar o projeto de lei do novo Plano Diretor, representantes do FORCIS apresentaram um trabalho elaborado pela Tendências Consultoria Integrada, empresa especializada na elaboração de estudos econômicos.
O projeto de lei do novo Plano Diretor chegou à Câmara Municipal depois de dois anos e meio de debates com diversos setores da sociedade, inclusive aqueles representados pelo FORCIS. Mas a entidade considera que seus pontos de vista não foram levados em consideração.
Um dos pontos criticados pela entidade empresarial é o que restringe o desenvolvimento do chamado Vetor Oeste.
Segundo análise da consultoria Tendências, as alterações incluem novos parâmetros de densidade habitacional, gabarito de altura dos edifícios e aumento no percentual de áreas doadas nos casos de desmembramentos e loteamento, o que deve limitar, de forma significativa, o crescimento de uma região estratégica e, o que pior, provocar sua deterioração no longo prazo.
Ao fixar parâmetros excessivamente restritivos ao desenvolvimento do espaço urbano e estimular a produção rural, o Plano acaba por reduzir o potencial de regiões promissoras como o Bairro do Medeiros.
“Ao impor tamanha restrição, a medida pode ainda gerar ocupações irregulares e favelização da região, fatores que ajudam na degradação ambiental”, explicou Fernando Botelho, responsável pela análise da Tendências.
“É preciso ser cuidadoso, ponderar e restringir de modo parcimonioso as intervenções necessárias, para que não se atinja efeito reverso, como eventual invasão e ocupação irregular em áreas desocupadas”, pondera o consultor.
Em carta endereçada aos vereadores, um grupo de moradores e proprietários do bairro do Medeiros argumenta que, ao estabelecer o índice de uma unidade a cada 1.000 m2 de terreno (a média atual é de 96 m2) permite que somente pessoas de altíssimo poder aquisitivo possam construir no local, um mercado que não existe na região.
A carta salienta ainda que a vocação do bairro é abastecer com moradias, comércio e serviços os trabalhadores da região Oeste, Faz Gran, novo Polo Tecnológico e demais indústrias das estradas de Itu e Itupeva.
“Os trabalhadores querem morar próximo ao trabalho, evitando os descolamentos e o agravamento do trânsito na cidade, especialmente na estrada que liga o bairro ao centro, que já está saturada”, reforça a carta.
Os moradores manifestaram a indignação com a nova exigência de doação de 35% da área nos casos de desmembramento e loteamento, contra os 15% atuais. Alegam que a Prefeitura não terá como manter e vigiar tamanha quantidade de terrenos que deverão ser abandonados e, provavelmente, invadidos e ocupados.
“A prefeitura não consegue nem cuidar do que já tem”, afirmou o vereador José Galvão Braga (Tico), relator da Comissão que analisa o Plano Diretor.
O levantamento da Tendências, por sua vez, mostra que outras alterações propostas no Plano, como o maior adensamento da região central e a instituição da Outorga Onerosa, entre outras exigências, resultarão num aumento de ao menos 30% no preço final dos imóveis.
“Se a intenção era trazer investimentos para a zona central, a proposta deveria contemplar estímulos de investimentos e não ônus como a outorga onerosa. Com restrições nas áreas periféricas e os aumentos de custos na zona central, as famílias da cidade não terão opção de moradia, o que afugentará a mão de obra qualificada e os investimentos para outras cidades da região, empobrecendo o município”, argumentou a arquiteta Rosana Ferrari, representante do FORCIS e do IAB (Instituto do Arquitetos do Brasil).
Outro ponto criticado pelo Fórum, que congrega 27 entidades, incluindo conselhos e associações diversas nas áreas profissionais, econômicas e culturais, é o que estimula o desenvolvimento da agricultura, com a transformação de algumas áreas urbanas em rurais, além de manter zoneamento rural em regiões de grande potencial econômico para outras atividades, como é o caso da margem direita do Rio Jundiaí (Bom Jardim e Traviu).
O trabalho da Tendências argumenta que a agricultura representa hoje somente 0,3% na economia do município e é, comprovadamente, uma atividade caracterizada por gerar poucos empregos com baixa remuneração.
Os consultores salientam os excelentes índices econômicos e de renda da cidade são alimentados por um conjunto de ativos que deveriam ter sido valorizados no Plano Diretor, ao invés de agricultura, tais como, manufatura, comércio e serviços, a localização estratégica entre os dois maiores mercado do Pais, a infraestrutura de transporte e logística, a mão de obra qualificada, entre outros.
O estudo da Tendências aponta ainda que a manutenção do patamar de PIB anual per capita da cidade – atualmente na expressiva casa dos R$ 92,9 mil, contra R$ 24,6 mil da média nacional – depende, sobretudo, da continuidade da expansão de atividades econômicas de alto valor agregado nas quais a cidade já possui destacada e comprovada vantagem competitiva – fundamentalmente indústria e serviços, e não agricultura.
O FORCIS também destaca que a Prefeitura, utilizando-se do argumento de proteção dos mananciais, optou por um rigor desmedido e equivocado ao retroceder o desenvolvimento da cidade, sem considerar os enormes impactos econômicos que devem agravar ainda mais a forte crise econômica vivida pelo País.
“O novo plano desestimula novos investimentos na cidade, o que gerará mais desemprego e perda de renda para a cidade, o que é inaceitável”, diz Rosana Ferrari. “Há outros meios sustentáveis de se preservar os mananciais e, ao mesmo tempo, manter os investimentos e o desenvolvimento da cidade”, reforça a representante do FORCIS.
Por fim, os empresários do FORCIS salientam que muitas das medidas contidas no novo Plano Diretor tem nítido viés ideológico e sinalizam na direção de um aparelhamento do estado, fato que gerará mais encargos aos munícipes, mais burocracia para obtenção de licenças e menor competitividade para a idade.
O FORCIS questiona também a legitimidade do “Plano Participativo”, pois 40% dos 101 delegados inscritos para discutir as medidas eram funcionários da própria administração municipal e outros 30% representantes de movimentos sociais, claramente orientados pela Prefeitura.
Por tudo isso, os empresários observam que o novo Plano nasce com um grave vício de origem e merece ser melhor analisado.
“Nós vereadores, estamos num momento de ouvir todos os segmentos da sociedade para então tomarmos a decisão mais correta num tema que envolve muitos conflitos”, comentou o relator da Comissão que analisa o Plano.
O presidente da comissão, vereador Rafael Purgato, disse que os vereadores terão até a próxima semana para ouvir diversos setores da sociedade em audiências.
“Mas temos recebido também muito material por carta. Então vamos analisar essas contribuições e tirar nossas conclusões”.
O vereador Jose Adair lembrou que o Plano Diretor participativo foi debatido com a sociedade por dois anos e meio.
“E não faz sentido chegar aqui e dizer que debatemos o plano por 60 minutos. Não é isso. Teve muita discussão com a sociedade. Eu vou votar com a minha consciência, conheço a cidade há 40 anos”.
DESTAQUES SOBRE AS CONSEQUÊNCIAS NEGATIVAS DE MEDIDAS CONTIDAS NO PLANO DIRETOR DE JUNDIAÍ
(Texto elaborado pela consultoria Tendências com um resumo do estudo apresentado na Câmara Municipal)
Jundiaí é reconhecida pelos índices excepcionais de qualidade de vida e
desenvolvimento econômico.
A cidade tem o maior PIB per capita do País dentre os municípios com mais de 400 mil habitantes, um fortíssimo parque industrial, é centro regional de comércio e serviços, atendida pelas melhores estradas e situada entre os dois maiores mercados do Brasil – Capital e interior do estado de São Paulo.
O novo Plano Diretor da Cidade, encaminhado recentemente pela Prefeitura à Câmara Municipal, propõe alterações drásticas que poderão mudar a trajetória de desenvolvimento da cidade e provocar consequências ainda não plenamente avaliadas durante os dois anos em que foi discutido pelos vários segmentos da sociedade local.
A seguir, algumas das consequências:
Estímulo à agricultura pode reduzir o potencial de crescimento e de geração de trabalho e renda da cidade, cuja vocação principal sempre foi baseada na indústria e em serviços
Apesar de a atividade agrícola representar insignificantes 0,3% da economia da cidade, o Plano Diretor estimula o desenvolvimento agrícola, com a transformação de algumas áreas urbanas em rurais (ou ainda a manutenção do zoneamento de regiões rurais de grande potencial econômico para outras atividades, nas quais a cidade já comprovou ter elevado potencial de crescimento).
Entre as principais medidas nesse sentido está a manutenção como zona rural da área localizada na porção noroeste da margem direita do Rio Jundiaí (Bom Jardim e Traviu).
O mesmo princípio aplica-se no caso da conversão dos bairros do Poste e Caxambu em zona rural. Com isso, essas áreas ficam exclusivamente voltadas para a agricultura e turismo rural.
Ocorre que essas duas atividades são caracterizadas por baixa densidade econômica, com pequeno efeito multiplicador e reduzido volume de empregos gerados. É sabido que a agricultura é compatível com elevado nível de renda per capita somente em duas situações:
1 – Em regiões de baixa densidade populacional em que o cultivo é realizado de forma extensiva e altamente mecanizada, empregando pouca mão de obra, como é o caso de diversas cidades do Centro Oeste brasileiro.
2 – Em regiões que, pelas condições físicas específicas de clima, relevo e propriedades do solo,
têm vocação para produtos agrícolas de alto valor agregado, como é o caso do Vale dos Vinhedos, no Rio Grande do Sul.
Nenhuma dessas condições encaixa-se no caso de Jundiaí.
Para permitir à cidade atingir um nível de desenvolvimento social e econômico elevado, o Plano Diretor deveria explorar os seus ativos (localização estratégica, atendimento logístico, parque industrial consolidado, etc.) e estimular atividades hoje desenvolvidas no município e que possuem efetivo potencial de crescimento.
A manutenção do patamar de PIB per capita da cidade – atualmente na expressiva casa de R$ 92,9 mil contra R$ 24,6 mil de média no país – depende, sobretudo, da continuidade da expansão das atividades econômicas de alto valor agregado nas quais ela já possui destacada e comprovada vantagem competitiva – fundamentalmente serviços e indústria, e não agricultura.
Comprova esse fato os dados segundo os quais, de 2010 e 2013, o PIB do município cresceu 22,4% em termos reais, uma taxa média de expansão de 5,2% ao ano, enquanto a economia nacional evoluiu no ritmo de apenas 2,2% ao ano no mesmo período.
O município é hoje, reconhecidamente, o centro de um aglomerado urbano com vocação metropolitana, que envolve seis cidades e congrega aproximadamente 800 mil habitantes, o que explica, em grande parte, a expressiva participação dos serviços e do comércio na base econômica da cidade, uma vez que é nela que se localizam o comércio especializado, o varejo, os grandes shoppings e hipermercados, os hospitais e centros de saúde, as faculdades e demais instituições de ensino, etc.
A indagação que o Plano Diretor não coloca claramente é saber se a população de Jundiaí está disposta a abrir mão de uma das rendas per capita mais elevadas do país para priorizar setores econômicos primários e de baixo potencial de geração de trabalho e renda.
Por conta dessa vocação natural da cidade, a própria Prefeitura tem tomado uma série de medidas para atrair novos investimentos nesses setores (com os programas Desenvolve Jundiaí e Emprega Mais) e está trabalhando para a implantação do Parque Tecnológico de Jundiaí. Restrições à indústria e a construção de condomínios provocará deslocamento para outras cidades da região, enfraquecendo a economia jundiaiense.
Diversos analistas acreditam que a pujança econômica da cidade – praticamente não se nota a presença de pedintes nas ruas de Jundiaí – é também uma das responsáveis pelo bom posicionamento da cidade no Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM), onde ela está classificada no 11º lugar em nível nacional, sendo o 4º maior do Estado de São Paulo, atrás apenas do de São Caetano do Sul, Águas de São Pedro e Santos.
Todos os especialistas em urbanismo são unânimes em afirmar que ter um IDH elevado e renda alta é resultado de uma política pensada no passado e que priorizou segmentos de maior valor
agregado como indústria e prestação de serviços, além da criação de uma infraestrutura de
transporte e logística que coloca a cidade muito próxima dos grandes centros consumidores do
país.
Além de colocar em risco as vantagens competitivas da cidade, em alguns casos, uma maior atividade agrícola tende a acentuar a degradação ambiental, com elevação no consumo de água, riscos às nascentes e contaminação do solo, numa região que recentemente se viu assolada por uma forte estiagem.
Nesse caso, o Plano Diretor parece assumir premissa equivocada, pois a agricultura envolve o uso de produtos que causam contaminação do solo e elevam a intervenção em cursos de água. A agricultura é, reconhecidamente, uma grande consumidora de água.
Segundo dados da Agência Nacional de Águas (ANA), a agricultura irrigada é responsável pelo maior volume de água demandada no País. Dependendo da região, esse volume equivale de 2 a 12 vezes a demanda total para o abastecimento urbano.
Restrições ao desenvolvimento do Vetor Oeste tende a reduzir a atração de investimentos,
gerar ocupações irregulares que ajudam a degradar o ambiente
Outras propostas do Plano Diretor dizem respeito a novas restrições de construção no Vetor Oeste da cidade. Elas incluem alterações nos parâmetros de densidade habitacional, gabarito de altura dos edifícios e taxa de permeabilidade do solo, o que deve limitar de forma significativa o crescimento desta região estratégica e, o que é pior, provocar sua deterioração
no longo prazo.
No Vetor Oeste, região de elevado potencial de desenvolvimento econômico da cidade, localizado a oeste da rodovia dos Bandeirantes e ao norte da Serra do Japi, algumas áreas foram classificadas pelo Plano como Zona de Desenvolvimento Periurbano 1 (cota de terreno de 1.000 m 2 por unidade, gabarito de altura de 10,5m).
Ao fixar parâmetros excessivamente restritivos ao desenvolvimento legal e ordenado do espaço urbano, o Plano acaba por reduzir o potencial de regiões promissoras do Vetor Oeste, como o Bairro do Medeiros. Esse bairro possui vocação para abastecer o polo produtivo da cidade com comércio e residências, dada sua localização privilegiada e a oferta de terrenos livres.
Considerando apenas as construções que deixarão de ser feitas no bairro pelas restrições que serão impostas, estima-se que, em 5 anos, ocorra uma perda de 10 mil empregos diretos.
As limitações determinadas pelo Plano, no entanto, implicarão uma significativa perda de potencial construtivo de lojas e moradias nessa área. O efeito imediato disso será uma menor geração de renda, empregos e tributos, em função dos negócios e construções que deixarão de ser realizados nesse bairro.
Além disso, tais restrições devem ter o efeito secundário de prejudicar a expansão da região industrial e logística do vetor Oeste da Cidade (eixos das Rodovias Dom Gabriel Paulino Bueno Couto e Hermenegildo Tonoli; e região da FazGran) e o futuro Polo Tecnológico projetado pela Prefeitura, uma vez que tais regiões possivelmente enfrentarão gargalos de oferta de habitação aos trabalhadores e de infraestrutura comercial e de serviços.
As restrições impostas pelo Plano à Zona de Desenvolvimento Periurbano 1 parecem ser motivadas pela preocupação com a preservação ambiental dessas áreas. No entanto, mais uma vez, o cenário mais provável é que tais medidas tragam consequências contrárias às desejadas, acarretando riscos de degradação do meio-ambiente.
As restrições impostas à construção de moradias e lojas nas áreas situadas na Zona de Desenvolvimento Periurbano 1 reduzem a atratividade dos terrenos ali situados. Impossibilitados de utilizar o potencial dos terrenos para projetos imobiliários, o mais provável é que os proprietários percam o interesse nesses ativos, que devem permanecer vazios.
A estas áreas vazias, o bairro receberá ainda, nos casos de desmembramentos e loteamentos, as áreas a serem doadas ao Município (35% da área bruta), que representarão enorme volume de terrenos desocupados e sem qualquer vigilância. Com isso, aumenta-se o risco de ocupações irregulares e loteamentos clandestinos.
No caso do Bairro dos Medeiros, esse risco é potencializado pela tendência de o Vetor Oeste concentrar a geração de novos postos de trabalho na cidade, atraindo trabalhadores que tentarão fixar moradia na região.
A ocupação desordenada e irregular do solo caracteriza-se, de forma geral, pela construção de moradias precárias e pela ausência de infraestrutura básica, resultando em graves problemas sociais e urbanísticos.
Ademais, a falta de saneamento básico gera esgotos a céu aberto e destinação não adequada dos resíduos sólidos, com importantes impactos ambientais, como a contaminação do solo e da água.
A região da represa de Guarapiranga, na cidade de São Paulo, é exemplo de como o processo descrito acima pode resultar em problemas sociais e ambientais de grandes proporções.
Adensamento ao longo dos Eixos Centrais força deslocamentos que devem gerar sérios
problemas de mobilidade na cidade
O propósito de promover maior adensamento populacional na região central da cidade, contido no Plano, igualmente resultará em novos problemas, uma vez que as empresas e os negócios devem se concentrar no Vetor Oeste.
Tal situação deve resultar em um importante desequilíbrio entre as ofertas de empregos e de moradias, o que, por sua vez, tende a provocar movimentos pendulares entre a região central da cidade e o Vetor Oeste.
Como o principal meio de transporte dos centros urbanos – o carro – está relacionado à emissão de elevados níveis de poluentes no ar, à poluição sonora e a congestionamentos, a consequência imediata seria uma sobrecarga da estrutura viária, em função dos deslocamentos diários entre as residências e os locais de trabalho.
Estimativa da Secretaria de Estado dos Transportes Metropolitanos indicam que as perdas com acidentes de trânsito, poluição de engarrafamentos sejam de R$ 4,1 bilhões por ano, considerando apenas a cidade de São Paulo.
Além disso, o adensamento urbano requer maior volume de investimentos em infraestrutura, tais como tratamento de esgoto, fornecimento de água, manejo de resíduos sólidos e criação de áreas verdes, a fim de evitar a expansão desordenada da cidade e o futuro agravamento de problemas sociais.
Ou seja, a condição financeira da cidade deve ser capaz de realizar estes investimentos caso os recursos das outorgas onerosas sejam insuficientes para
Aumento dos custos de construção e do preço final das residências – que podem superar os 30% dos preços atuais – afetará, sobretudo as classes de menor poder aquisitivo
O maior adensamento preconizado no Plano tende a registrar um incremento nos preços dos terrenos e um consequente aumento no custo da construção, pois serão necessários subsolos e estruturas mais caras para erguer prédios altos, de forma a aproveitar o potencial permitido.
Há ainda a criação do imposto de Outorga Onerosa (incidente sobre a construção que exceder 1 x a área do terreno) e outras contrapartidas, como o EIV – Estudos de Impactos de Vizinhança.
No caso da Outorga Onerosa há, segundo avalia o Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB), o risco de que essa cobrança, sem estar vinculada a uma Operação Urbana, signifique apenas acobrança de mais um imposto, não trazendo ganhos efetivos e tornando a compra de imóveis mais caras na cidade.
Hoje, as contrapartidas da EIV já encarecem os empreendimentos em até 5%. A estimativa é que, no eixo central, haverá um aumento de 30% no preço final dos imóveis na comparação com outras regiões da cidade, o que afetará, sobretudo, as camadas de renda média.
Também as limitações impostas à construção referem-se a restrições ambientais. Com o objetivo de preservar o meio ambiente e as zonas de mananciais da cidade, a Proposta cria diversos mecanismos que aumentam as restrições ambientais para a construção civil.
Com a legislação estadual, já em vigor, que regulamenta a Área de Proteção Ambiental (APA) de
Jundiaí, existem restrições ambientais estaduais que se aplicam a todo o município. Além
disso, cerca de metade do território municipal está sujeito a medidas federais e estaduais de
proteção ambiental devido ao Parque Estadual da Serra do Japi, e um quarto do território
corresponde a áreas de mananciais, que implicam medidas de proteção adicionais.
No entanto, mesmo nas únicas áreas disponíveis para crescimento e expansão da cidade (como a
Macrozona de Estruturação e Qualificação Urbana), são acrescidas normas e restrições segundo o novo Plano Diretor.
Uma das regulamentações da Proposta acaba duplicando a necessidade de licenciamento ambiental de projetos de construção, uma vez que se é exigido tanto pela CETESB como pelo poder executivo municipal, aumentando a burocracia dos processos de licenciamento de empreendimentos.
A Prefeitura de Jundiaí não realizou convênio junto a Cetesb, conforme Deliberação Normativa Consema nº 01/2014, que estabelece as diretrizes para o licenciamento ambiental municipal de empreendimentos ou atividades de potencial impacto local, o que confirma que, de fato, haverá duplicidade nos trabalhos de aprovação de projetos e, portanto, aumento de custos para os empreendimentos.
Mais estado e menos liberdade empreendedora resulta em menor desenvolvimento, que pode comprometer o futuro da cidade e da região
Por fim, nota-se um nítido viés ideológico envolvendo tanto o processo de concepção original, quanto as circunstâncias de finalização do Plano Diretor. Menos de 20% dos 101 delegados inscritos para discutir a elaboração do Plano eram do setor produtivo – empresários e
trabalhadores.
Nada menos que 40% dos delegados eram funcionários públicos, da própria administração municipal, e outros 30% representavam movimentos sociais, claramente orientados pela Prefeitura. Tal composição coloca em dúvida a legitimidade do processo.
Outro sintoma do alinhamento ideológico com o propósito da atual administração é o fato de que a empresa que prestou assessoria para o governo municipal na concepção do Plano Diretor ser a mesma que acompanhou a elaboração dos planos das administrações das cidades de Santo André, Campinas e São Paulo, todas ligadas ao PT.
Observa-se no Plano Diretor de Jundiaí e também na sua condução, um claro intervencionismo
estatal na forma de propostas que aumentam a burocracia; o controle do Estado; o inchaço da
máquina pública, com a criação de conselhos e comissões; o paternalismo, com o fornecimento de equipamentos para os agricultores locais, que representam menos de 0,5% da população local, a custa dos demais munícipes; a centralização das decisões, com a Secretaria de Planejamento (e Meio Ambiente) tendo a alçada de aprovação geral, inclusive ambientais, que é uma competência do órgão fiscalizador estadual; a criação de mais tributos sem estar clara a contrapartida para a sociedade, entre outras.
Este filme a sociedade brasileira está cansada de assistir.
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