Conhecida como a “Terra da Uva”, Jundiaí enfrenta um desafio cada vez mais comum em cidades brasileiras que crescem rapidamente: encontrar o equilíbrio entre desenvolvimento urbano, preservação ambiental e manutenção de suas áreas agrícolas. Enquanto o avanço econômico impulsiona a verticalização e a expansão imobiliária, a cidade busca preservar sua identidade rural e os valores culturais e ambientais que moldaram sua história.
O legado agrícola sob pressão
A produção de uvas, especialmente da variedade Niagara Rosada, é uma marca registrada de Jundiaí. Com cerca de 1.117 hectares dedicados ao cultivo em aproximadamente 406 propriedades rurais, a agricultura ainda ocupa um papel central na economia local. No entanto, líderes locais reconhecem que esse patrimônio está sob pressão.
“A nossa cidade sempre foi e sempre será a Terra da Uva”, afirmou o prefeito Gustavo Martinelli durante a abertura da Festa da Uva de 2025, destacando a importância cultural e histórica do cultivo para a população.
Por outro lado, o vice-prefeito Ricardo Benassi, cuja família tem raízes profundas no setor agrícola e imobiliário, alerta para as dificuldades econômicas enfrentadas pelos produtores rurais. Ele ressalta que a continuidade da atividade agrícola entre as novas gerações é ameaçada por fatores como a competitividade do mercado e a atratividade do setor imobiliário.
“Se tudo vira cidade, perdemos a qualidade de vida”, disse Benassi, enfatizando a necessidade de políticas públicas que promovam o equilíbrio entre crescimento urbano e rural.
Plano Diretor: A linha divisória
Um dos principais instrumentos para mediar esse conflito é o Plano Diretor da cidade, que define como e onde o desenvolvimento urbano pode ocorrer. Para Renê José Tomasetto, presidente voluntário da Associação Agrícola de Jundiaí, a atual divisão territorial da cidade — um terço de área ambiental protegida (como a Serra do Japi), um terço urbana e um terço rural — é um modelo exemplar que precisa ser preservado.
“Se liberarmos mais áreas rurais para construção, corremos o risco de perder esse equilíbrio, como já ocorreu em outras cidades que hoje não possuem mais áreas rurais”, alertou.
Tomasetto defende o crescimento vertical como alternativa à expansão horizontal, argumentando que essa abordagem pode evitar a ocupação excessiva de terras agrícolas sem comprometer o desenvolvimento econômico. Ele também destaca que, embora as grandes plantações tenham migrado para regiões mais distantes do centro urbano, a produtividade aumentou, mostrando que é possível modernizar a agricultura sem sacrificar sua relevância.
Uma Identidade Plural
Enquanto alguns defendem a preservação da identidade de Jundiaí como “Terra da Uva”, outros, como o vice-prefeito Benassi, argumentam que a cidade deve ser “terra de todos”. Essa visão pluralista busca integrar diferentes aspectos da identidade local, desde a agricultura até o turismo, passando pelo crescimento empresarial e pela promoção de iniciativas voltadas às crianças, como a marca “Cidade das Crianças” adotada por gestões anteriores.
No entanto, Benassi reforça que a preservação das áreas agrícolas e ambientais é essencial para manter o diferencial de Jundiaí frente a outras cidades que já sacrificaram seu patrimônio rural.
“A agricultura traz equilíbrio para a cidade”, disse ele, lembrando que a perda dessas áreas pode comprometer não apenas a qualidade de vida da população, mas também a própria atratividade da cidade para investidores e turistas.
Desafios e Perspectivas Futuras
Os desafios enfrentados por Jundiaí refletem dilemas globais sobre urbanização e sustentabilidade. Em um mundo onde o crescimento populacional e econômico pressiona recursos naturais e terras cultiváveis, encontrar soluções que atendam às demandas atuais sem comprometer as futuras gerações é crucial.
Para Renê José Tomasetto, o futuro de Jundiaí dependerá de sua capacidade de conciliar suas múltiplas identidades sem perder de vista aquilo que a tornou única: sua paixão pela terra, sua cultura e sua natureza exuberante.
“Se mantivermos essa proporção entre rural, urbano e ambiental, poderemos seguir sendo uma cidade modelo em qualidade de vida e respeito ao meio ambiente,” disse.
Jundiaí está em um momento decisivo. A cidade tem a oportunidade de se tornar um exemplo de desenvolvimento equilibrado, onde progresso econômico e preservação ambiental caminham lado a lado.
No entanto, isso exigirá liderança visionária, diálogo constante entre diferentes setores da sociedade e compromisso com políticas de longo prazo. Como destacado pelas vozes locais, o legado de Jundiaí depende de sua capacidade de valorizar tanto suas raízes agrícolas quanto seu potencial urbano, garantindo que ambas as dimensões coexistam harmoniosamente.