A decisão do Hospital de Caridade São Vicente de Paulo de trocar seu superintendente marca um novo capítulo na tensa relação entre a instituição e a Prefeitura de Jundiaí.
O desligamento de Matheus Gomes e a nomeação de Amauri Liba ocorrem em um momento em que a gestão municipal pressiona por mais transparência na administração dos Prontos Atendimentos (PAs) e diante da iminente contratação de uma nova entidade para gerir as unidades de saúde.

A Assembleia Geral do hospital anunciou nesta quarta-feira (6) que a troca na superintendência visa um “maior alinhamento com as políticas públicas da atual gestão municipal”.
Embora o comunicado institucional ressalte a experiência de Amauri Liba na gestão de organizações filantrópicas e agradeça a contribuição de Gomes nos últimos oito anos, a mudança ocorre após meses de embates entre hospital e prefeitura sobre a renovação do contrato de administração dos PAs Central, Hortolândia e Retiro.
A crise entre as partes se intensificou com a decisão do Conselho Municipal de Saúde (Comus) de rejeitar a renovação do contrato, aprovando apenas uma extensão emergencial de 90 dias sem reajuste financeiro. A medida contrariou a Prefeitura, que previa a continuidade do convênio por mais um ano.
Horas após a decisão do Conselho, o gestor de Promoção da Saúde, Adolfo Martin, pediu exoneração do cargo. A médica Márcia Farci assumiu a pasta da Saúde dias depois.
O São Vicente alega que a falta de reajuste impacta suas finanças e compromete a manutenção dos serviços, enquanto a Prefeitura argumenta que a instituição não tem apresentado informações detalhadas suficientes para justificar um aumento no repasse mensal, atualmente em R$ 4,5 milhões.
O hospital rebate, afirmando que todos os documentos foram enviados e que o pedido de reajuste é baseado no aumento da demanda, que cresceu 30% nas internações desde 2017.
O prazo para que a Prefeitura decida sobre a contratação de outra organização para gerir os PAs termina no fim de março.
A troca na superintendência do Hospital São Vicente pode ser interpretada como um gesto de aproximação com a Prefeitura, na tentativa de destravar as negociações e garantir a continuidade do contrato.
O governo municipal, no entanto, afirma que a mudança na superintendência do Hospital de Caridade São Vicente de Paulo se trata de uma questão administrativa interna da instituição, sem relação direta com o processo conduzido pelo Município.
A Prefeitura de Jundiaí reforça que os trâmites para o contrato ou convênio referente aos Pronto Atendimentos (PAs) Central, Hortolândia e Retiro seguem rigorosamente os ritos legais e institucionais, garantindo total transparência e compromisso com a qualidade dos serviços prestados à população.
A Prefeitura informa ainda que, nesta etapa de qualificação de Organizações Sociais (OS) interessadas na gestão dos referidos PAs, 50 OSs estão habilitadas e cinco em análise.
Câmara Municipal
A Câmara Municipal acompanha de perto as negociações e formou uma comissão especial para fiscalizar os repasses ao hospital.
“Nosso papel é garantir que os recursos sejam usados de forma eficiente e transparente, sempre priorizando o atendimento à população”, afirmou recentemente o presidente da Casa, Edicarlos Vieira (União Brasil).
A Rede Sustentabilidade de Jundiaí, por sua vez, protocolou um pedido junto à Câmara Municipal para a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investigue a rescisão do contrato de gestão das Unidades de Pronto Atendimento (PAs) pelo Hospital São Vicente de Paulo.