A médica Márcia Farci, gestora de Saúde da Prefeitura de Jundiaí, disse que ao contrário do que era amplamente divulgado pela administração anterior, a cidade enfrentava sérios problemas na rede de saúde, com longas filas de espera e unidades de saúde em colapso.
“Recebemos uma saúde que não era como muitos pensavam, uma saúde doente, com filas até nas unidades básicas de saúde”, declarou Farci, ressaltando que o diagnóstico da população era muito mais realista do que a imagem promovida pela gestão do ex-prefeito Luiz Fernando Machado (PL)
Em entrevista ao programa TECNEWS, do canal no Youtube da Fundação Escola TVTEC, órgão da Prefeitura de Jundiaí, Márcia Farci, falou sobre a realidade desafiadora encontrada ao assumir a pasta da saúde no município.
Destacamos aqui alguns dos principais pontos abordados por ela na entrevista.
Experiência e desafios na gestão da saúde
Médica com especializações em Clínica Médica, Geriatria e Medicina Legal, Márcia Farci assumiu a Unidade de Gestão de Promoção da Saúde (UGPS) em 21 de fevereiro de 2025. Servidora pública aposentada, já ocupou cargos como secretária de Saúde na gestão do ex-prefeito Ary Fossen e superintendente do Instituto de Medicina Social e Criminologia de São Paulo (IMESC).
Segundo ela, a situação encontrada foi muito mais crítica do que o esperado. “Assumimos a pasta com diversas dificuldades, como a falta de recursos, com um orçamento de menos 150 milhões deixado pela gestão anterior”, afirmou. Entre os principais desafios, Farci destacou a necessidade de reestruturar a rede e reduzir as filas de espera, que atingem desde consultas básicas até procedimentos de alta complexidade.
Filas de espera: cirurgias e oncologia
A gestora citou o caso da fila para cirurgias ortopédicas, que atualmente é de 58 meses. “Isso não começou agora, em janeiro ou fevereiro. Esses problemas já existem há muito tempo”, explicou.
Outro ponto crítico é a oncologia. “No ano passado, em novembro, tivemos uma diminuição no atendimento da fila oncológica. Isso gerou um grande acúmulo e, hoje, estamos retomando a organização dessa fila”, afirmou. Segundo ela, estratégias estão sendo adotadas para melhorar o atendimento especializado, que também enfrenta longas esperas.
Falhas na transição e falta de transparência
Farci também mencionou dificuldades na transição da gestão da saúde. “Assumimos sem uma transição totalmente adequada, porque muitos dados, especialmente relacionados ao Hospital São Vicente, não foram passados para nós na comissão de transição. Isso dificultou bastante o nosso trabalho no mapeamento da rede”, relatou.
Ainda assim, ela afirmou que a equipe está trabalhando para reorganizar o sistema. “Essas questões são comuns no SUS, pois a demanda sempre é maior que a oferta, mas estamos tentando, com inovação, tecnologia e trabalho, reverter esse quadro para o bem da população de Jundiaí”.
Burocracia e tempo de reorganização
A médica também alertou sobre o tempo necessário para mudanças na saúde pública. “Muitas vezes ouvimos as pessoas perguntando: ‘Ah, mas vocês já estão aqui há 60 dias, como é que a fila não foi resolvida? Como é que o leito não foi aberto?’. Essas coisas demoram”, disse.
Farci explicou que a aquisição de materiais e equipamentos exige processos licitatórios, o que pode atrasar as soluções esperadas pela população. “Todo esse processo burocrático visa dar transparência, mas acaba causando demora na aquisição de bens, serviços e exames”, pontuou.
A realidade da rede de saúde
A gestora reforçou que a percepção da população sobre a crise na saúde estava mais alinhada à realidade do que a divulgação oficial da administração anterior. “Havia filas nas unidades, ambulatórios abertos e depois fechados, com a população recebendo avisos no celular dizendo: ‘Ambulatório fechado, volte para a Unidade Básica de Saúde'”, exemplificou.
Outro problema apontado foi a falta de leitos hospitalares, que agrava ainda mais a dificuldade no atendimento.
Envelhecimento da população e desafios futuros
Farci destacou que Jundiaí tem uma população idosa significativa, com mais de 80 mil pessoas acima de 60 anos, representando mais de 18% dos moradores da cidade. “Ao contrário do que se propaga, a cidade também tem muitas crianças, mas a maior parte da população está envelhecendo”, observou.
Com isso, a demanda por atendimento médico especializado cresce. “Cada idoso tem, em média, de três a cinco doenças crônicas ao longo da vida, e essas condições, se não forem bem acompanhadas, podem levar a complicações graves, como amputações por diabetes descontrolada”, explicou.
Câncer: segunda maior causa de morte em Jundiaí
Outro grande desafio é a oncologia. O câncer já é a segunda maior causa de morte na cidade, ficando atrás apenas das doenças cardiovasculares. “A incidência de câncer tem aumentado muito, tanto em idosos quanto em jovens”, disse Farci, citando fatores como hábitos de vida, microplásticos e agrotóxicos como possíveis influenciadores desse crescimento.
A oncologia em Jundiaí é organizada pelo Hospital São Vicente, que atua como hospital de referência. No entanto, a gestora apontou que a fila de atendimento não era devidamente administrada pela Secretaria de Saúde. “Desde que assumimos, estamos reorganizando os atendimentos, as consultas e os exames”, afirmou.
Um dos problemas, segundo ela, é a falta de salas cirúrgicas, o que causa desmarcações e novas esperas. “Estamos trabalhando para que as pessoas tenham acesso rápido aos tratamentos e cirurgias, e que a reabilitação aconteça da maneira mais eficiente possível. Não será um processo extremamente rápido, mas estamos nos dedicando muito para que isso aconteça o quanto antes”, disse.