Skip to content Skip to footer

Por que o transporte público merece subsídio?

A truculência da polícia e o vandalismo de uma parcela dos participantes do protesto contra o aumento das tarifas de transporte público ofuscaram o debate lúcido que o tema pede, mas não deveriam impedir a retomada de uma discussão a fundo sobre a questão.

Que a violência é um tiro no pé e tira a razão dos protestos, já se sabe. O que se desconhece são as formas de colocar em prática uma reivindicação legítima e totalmente defensável: o amplo subsídio ao transporte público de qualidade no País.

A mobilidade não é uma “causa menor” que não mereça estar no rol dos direitos do cidadão e deveres do Estado, ao lado de educação, saúde e segurança.

A mobilidade afeta de tal forma a vida do cidadão que precisa ser considerada em todas suas interfaces: nos gastos dos hospitais com problemas decorrentes da poluição e com acidentes de trânsito; nas horas perdidas na locomoção; nas emissões de gases de efeito estufa que causam o aquecimento global e alteração no microclima local; na perda substancial de qualidade de vida; na degradação do tecido urbano pelo uso excessivo do transporte individual.
Quanta custa tudo isso? E quem já paga essa conta?

Quando a Prefeitura de São Paulo, por exemplo, afirma que o preço exato da passagem teria de ser de R$ 4,13, e que o aumento resultou em uma tarifa de apenas R$ 3,20 – alegando, assim, que já subsidia boa parte do valor – a conta que precisa ser feita é mais complexa.

É necessário considerar nesse cálculo as externalidades negativas do transporte particular e individual em detrimento do público: a poluição, os gastos com saúde, o prejuízo econômico com as horas perdidas no trânsito, o distanciamento das metas de redução de emissões de carbono, as piores condições de vida na cidade etc.

Calculadas todas essas externalidades – que já estão sendo arcadas pelos cidadãos – é preciso avaliar se custam mais ou menos que o subsídio ao transporte público. E então responder: o que vale a pena? Qual o percentual da tarifa que o Estado deveria subsidiar?

Mais perguntas: quanto deveria ser investido em expansão da oferta de transporte público e aumento da qualidade do serviço, de modo que as pessoas do transporte individual migrassem para o público? Como fazer para que o transporte individual contribua mais para o subsídio do transporte público? Por meio de uma transferência maior de recursos arrecadados via impostos? Por meio de pedágio urbano? Como convencer a classe média motorizada? Essas são questões que merecem um amplo debate.

Alguns números já estão disponíveis e ajudam nos cálculos: segundo a Fundação Getulio Vargas (FGV), o prejuízo econômico que o trânsito causa na cidade de São Paulo já equivale a 1% de todo o Produto Interno Bruto brasileiro, ou seja, R$ 40 bilhões/ano.

É um número conservador, pois não leva em conta o retorno que poderia ser obtido caso esse volume de recursos tivesse sido investido, em vez de simplesmente perdido. Perto dele, o valor de R$ 1,25 bilhão – correspondente ao atual subsídio da prefeitura de São Paulo ao transporte público – fica bem pequeno.

Para exemplificar como a oferta de transporte público é importante, a economia brasileira perderia R$ 19,3 bilhões por ano se a cidade de São Paulo não tivesse metrô. Conforme publicado na Agência Fapesp, “esse valor corresponde a dois terços do custo de construção de toda a rede de metrô da cidade.

 

Se a quantia salva fosse investida no próprio sistema metroviário, seria possível duplicá-lo com o dinheiro poupado em menos de um ano e meio”.

Esse dados foram apresentados no estudo The Underground Economy: Tracking the Wider Impacts of the São Paulo Subway System (ou A Economia Subterrânea: Rastreamento dos Impactos mais Amplos do Sistema de Metrô de São Paulo), coordenado por Eduardo Amaral Haddad, professor titular do Departamento de Economia da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP).

Mais: se o metrô não existisse, a poluição do ar em São Paulo seria 30% maior, principalmente de material particulado. O resultado foi obtido por meio de uma simulação feita pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), coordenada pela professora do Departamento de Ciências Exatas e da Terra Simone Georges Miraglia.

Receba nossas notícias!

Não fazemos spam! Leia nossa política de privacidade para mais informações.

Receba nossas notícias!

Não fazemos spam! Leia nossa política de privacidade para mais informações.