Por Cassie Owens e Flavio Gut
Existe um caminho certo para tornar uma cidade mais verde?
Sim, os pesquisadores da Universidade de Exeter dizem que planejar bairros de alta densidade com grandes parques, ao contrário de bairros de baixa densidade com amplos gramados e espaços públicos menores é significativamente melhor para o ecossistema e os moradores de uma cidade.
Em tempos de rápida urbanização, os autores de Exeter, num recente estudo “Fronteiras em Ecologia e Meio Ambiente”, argumentam que preferir grandes parques, ou “poupar terreno”, é a chave para a estabilidade ambiental global.
(A última previsão da ONU estima que dois terços da população mundial viverão em cidades até 2050; mais da metade da população atual já o faz. No Brasil são cerca de 85%)
“Há uma série de estudos que mostram que os jardins são bons para os ecossistemas, a natureza e a biodiversidade, o que é absolutamente verdadeiro”, diz Iain Stott, um dos autores.
“Mas o ponto-chave aqui é: se você não incluir grandes espaços verdes contíguos, então você provavelmente não fornecerá:
a) o máximo nos serviços para o ecossistema como você poderia, e
b) tantos serviços para o ecossistema como você poderia”.
Um serviço para o ecossistema é um benefício ecológico, como dar suporte à produção de alimentos, ou promover condições favoráveis para a gestão de inundações ou inspirar conexão dos nativos com a terra.
Esse é justamente o ponto, a base do novo Plano Diretor Participativo de Jundiaí, que chega à Câmara Municipal esta semana, depois de ser amplamente debatido pela sociedade por mais de dois anos.
Um plano que propõe a ampliação e preservação da área rural e manutenção de áreas verdes já estabelecidas, como a Serra do Japi e seu entorno.
O conceito do novo plano está em linha com o que os pesquisadores de Universidade de Exeter relataram em seu trabalho, que examinou as paisagens de nove cidades.
Os serviços que analisaram foram: armazenamento de carbono (ambos acima do solo e abaixo), a infiltração de água, bem-estar humano, a produção agrícola, polinização, controle de pragas, redução de ruído, purificação do ar e regulação da temperatura.
Os resultados de sua análise constataram que poupar áreas produziu mais ganhos em quase todas as categorias.
Ou seja, fica claro pela pesquisa, que ao se preservar grandes áreas o ambiente urbano ganha qualidade.
A cidade tomou essa decisão quando no final da década de 70 tratou de garantir a preservação da Serra do Japi. Um trabalho que garantiu, por exemplo, que quase todas as nascentes na área de preservação estejam em ótimo estado, produzindo água de boa qualidade.
O Plano Diretor, no entanto, vai além quando propõe igualmente a presevação da área rural, não apenas com produtora de alimento e zona de amortecimento, mas também e principalmente, como produtora de água e equilíbrio ambiental.
Ao permitir que grandes áreas sejam presevadas ou dedicadas à produção agrícola, o município garante a produção de água para o futuro e contribui para a manutenção da flora e fauna.
Da mesma forma, o novo Plano Diretor busca disciplinar o crescimento olhando no futuro para uma cidade compacta que, ao mesmo tem em que permite a preservação de grandes áreas verdes, acomode uma população maior, sem perder a qualidade de vida.
Os efeitos positivos dos espaços verdes nas proximidades, na saúde física e mental são uma grande razão para a incorporação de parques menores também. A saúde foi uma categoria onde poupar áreas grandes realmente ficou aquém, descobriram os pesquisadores.
É o que a Prefeitura de Jundiaí vem fazendo ao incorporar novos parques, como os recentemente inaugurados no Engordadouro e Jardim do Lago, e revitalizando espaços públicos, como a renovação do Escadão (na foto de abertura), a criação da praça Erazê Martinho e a restauração da Ponte Torta, entre outros.
Os mecanismos ecológicos exatos que fazem poupar grandes áreas, como a Serra do Japi, ser mais bem-sucedido nas outras áreas de foco precisa de mais estudo. Algumas coisas básicas também devem ser levadas em consideração:
Os resultados sugerem que há algo sobre essa expansão que frustra a delicada conectividade de um ecossistema entre os organismos vizinhos.
E enquanto o desenvolvimento mais esparso é frequentemente rotulado como “suburbano”, bairros de baixa densidade também são extremamente comuns em cidades. Em Jundiaí isso acontece em diversos locais, especialmente em áreas de condomínios fechados.
O que a cidade precisa é ampliar a conectividade da área da Serra do Japi com outras áreas razoavelmente preservadas, especialmente a Serra dos Cristais, conexão com a Serra da Cantareira.
O ideal, no futuro, seria a criação de corredores ecológicos capazes de transpor as rodovias que cercam a Serra do Japi permitindo o fluxo de animais e pássaros.
Na contramão desse pensamento está o Governo do Estado, que pretende desativar o Instituto Agronômico de Jundiaí e vender a área ocupada por ele, um oásis verde ao lado da Serra do Japi, em meio a rodovias, industrias e zona residencial.
O local tem vocação para se tornar um grande parte urbano.
De acordo com Alan Mallach, um membro sênior do Centro para o Progresso da Comunidade, densas áreas urbanas estão mais para “bolsões” em cidades norte-americanas, com exceção de lugares como San Francisco e Nova York. No Brasil a alta densidade das cidades é mais comum, como por exemplo em São Paulo.
Em Jundiaí, há ainda muitos espaços urbanos nas áreas centrais que poderiam ser utilizados para a expansão do território urbano sem comprometer a preservação das áreas verdes.
(Para uma perspectiva mais global, considerar este relatório de 2011, uma compilação de 326 estudos sobre o desenvolvimento urbano. Ele revelou que “em todas as regiões e em todas as três décadas [de análise], as taxas de expansão de área urbana são superiores ou iguais à taxa de crescimento da população urbana, sugerindo que o crescimento urbano é cada vez mais expansivo do que compacto”.)
Para os pesquisadores, as cidades não são inerentemente perigosas para o meio ambiente; já o desenvolvimento urbano mal planejado sim.
Por isso, é fundamental para o futuro da cidade, que o novo Plano Diretor seja aprovado pela Câmara Municipal e implantado. Pois só mesmo com o desenvolvimento urbano bem planejado, Jundiaí terá garantia de qualidade de vida para as próximas gerações.
Stott diz que o estudo deles tem um propósito.
“Neste longo debate sobre desenvolvimento compacto versus extenso “, diz ele, “esta é apenas uma forma de levar esse debate antigo, e explicitamente incluir espaço verde como uma parte disso”.
Foto de abertura
Cerimônia de inauguração do Escadão revitalizado.
By assessoria de comunicação da Prefeitura Municipal