A relação entre a Prefeitura de Jundiaí e o Hospital São Vicente se tornou tensa após a administração municipal cobrar mais transparência na prestação de contas da instituição. O hospital rebateu, afirmando que já presta todas as informações exigidas e acusou a Prefeitura de adotar uma postura impositiva nas negociações.
O impasse veio a público na noite de terça-feira (28), quando a Prefeitura abordou o tema em uma transmissão ao vivo, e se intensificou nesta quarta-feira (29) com a divulgação de uma nota oficial pelo hospital, evidenciando divergências sobre o contrato vigente e a continuidade dos serviços de saúde na cidade.
A prefeitura afirma que, desde o início do ano, tem solicitado documentos detalhados sobre os custos operacionais do hospital para avaliar um pedido de reajuste no contrato, que atualmente soma R$ 4,5 milhões mensais. Segundo a administração municipal, o hospital solicitou um aumento de 22,33%, elevando o valor para R$ 5,5 milhões, mas os números apresentados não justificariam essa correção.
“Assim que assumimos, solicitamos os documentos necessários para entender as necessidades do Hospital São Vicente e buscar as melhores soluções. Temos nos empenhado para conduzir as tratativas de forma técnica e transparente, sempre colocando os interesses da população em primeiro lugar”, afirmou o prefeito Gustavo Martinelli (União Brasil).
O hospital, por sua vez, contesta a versão da Prefeitura e alega que todas as informações foram entregues à administração municipal e a órgãos de controle, incluindo o Tribunal de Contas do Estado e o Ministério da Saúde. A direção da instituição argumenta que o aumento pedido reflete o crescimento da demanda e a inflação do setor de saúde.
Em nota oficial, a direção do São Vicente afirmou que “somente na data desta terça-feira (28), a Unidade de Gestão de Promoção da Saúde (UGPS) encaminhou ofício, dando prazo exíguo para resposta, ameaçando, com todo respeito, sem necessidade, a Instituição que, por anos e anos, vem mantendo e cumprindo a parceria com o Município de Jundiaí”.
A Prefeitura sustenta que, mesmo sem um novo acordo assinado, os atendimentos não serão interrompidos. Segundo o gestor de Promoção da Saúde, o médico Adolfo Martin, caso o hospital não aceite os termos propostos, ele tem a obrigação contratual de manter os serviços por até 90 dias enquanto se busca uma solução.
“Nosso compromisso é garantir que a população continue sendo atendida com excelência. Estamos empenhados em buscar soluções que atendam às necessidades de todos, sempre com responsabilidade e dentro da lei”, disse o gestor.
O Hospital São Vicente reforça que sua atuação vai além da gestão dos Prontos Atendimentos (PA) Central, Hortolândia e Retiro, abrangendo também serviços de alta complexidade como oncologia, cardiologia e neurocirurgia. A instituição alega que o volume de atendimentos realizados está acima do pactuado no contrato, chegando a 139 mil atendimentos mensais, 63,5% acima da meta prevista, o que justificaria a necessidade de reequilíbrio financeiro.
Outro ponto de conflito entre as partes é a inclusão de uma cláusula para cobrir rescisões trabalhistas caso a prefeitura decida encerrar o convênio. O hospital alega que, por ser uma instituição filantrópica, não tem recursos próprios para arcar com essas despesas.
A Câmara Municipal também entrou no debate. O presidente da Casa, Edicarlos Vieira (União Brasil), afirmou que os vereadores acompanharão de perto as negociações e farão um levantamento detalhado dos repasses.
“Os vereadores farão um levantamento detalhado e protocolarão um pedido formal para acompanhar de perto os recursos destinados ao hospital. Nosso objetivo é garantir que cada real seja aplicado de forma eficiente e responsável para atender à população”, declarou.
A prefeitura reforça que a prioridade é garantir a continuidade dos serviços e que a transparência na aplicação dos recursos públicos é fundamental. O hospital, por sua vez, reafirma seu compromisso com a ética e a excelência no atendimento, mas cobra um diálogo mais equilibrado com a administração municipal.
O impasse segue sem uma solução definitiva, e novas reuniões devem ocorrer nos próximos dias para tentar um acordo. Enquanto isso, tanto a prefeitura quanto o hospital garantem que os atendimentos à população continuarão normalmente.