O centro de Jundiaí enfrenta desafios significativos, como a alta vacância de imóveis comerciais, segurança pública, mobilidade urbana e a concorrência do e-commerce. Para discutir essas questões e propor soluções, conversamos com Eli Gonçalves , vice-presidente de Comercialização e Inteligência de Mercado Imobiliário da Associação de Empresas e Profissionais do Setor Imobiliário de Jundiaí e Região.

Nesta entrevista, Eli aborda temas cruciais para a revitalização do centro, incluindo a importância da segurança pública, incentivos fiscais para novos empreendimentos, a integração entre lojas físicas e e-commerce, e a necessidade de políticas públicas para lidar com questões sociais, como moradores de rua e dependentes químicos.
A entrevista foi editada para melhorar a clareza e a fluidez do conteúdo, mas mantém a essência das respostas originais. A íntegra pode ser acompanhada no vídeo.
Confira abaixo os principais trechos:
Eli Gonçalves é vice-presidente de Comercialização e Inteligência de Mercado Imobiliário da Associação de Empresas e Profissionais do Setor Imobiliário de Jundiaí e Região. Eli, uma das coisas que chamaram minha atenção foi sua visão sobre a revitalização do centro de Jundiaí. Poderia nos explicar quais são as principais causas da alta vacância de imóveis comerciais no centro da cidade?
Essa questão não é exclusiva de Jundiaí. Muitas cidades centenárias enfrentam desafios semelhantes, como São Paulo, onde empresas migraram do centro tradicional para novos polos corporativos, como a Avenida Paulista, Brooklin e Faria Lima. Em Jundiaí, temos um aumento significativo na vacância de imóveis comerciais por diversos fatores.
Primeiro, precisamos olhar além do universo imobiliário. Um dos grandes problemas é a segurança pública . O centro de Jundiaí, por exemplo, representa 14% das ocorrências criminais da cidade, mesmo sendo uma área pequena territorialmente. Isso afeta diretamente a percepção de segurança, tanto para quem quer morar quanto para quem deseja abrir um negócio ou frequentar o comércio local.
Além disso, há questões relacionadas à mobilidade urbana . A falta de transporte público eficiente, especialmente à noite, e a ausência de ciclovias conectadas dificultam o acesso ao centro. Esses fatores impactam negativamente a ocupação comercial e residencial.
Como a segurança pública pode ser melhorada para revitalizar o centro?
A segurança pública é o primeiro ponto que deve ser abordado. Se conseguirmos oferecer um ambiente seguro, outros aspectos tendem a se resolver naturalmente. Hoje, temos dois “centros” em Jundiaí: um que funciona das 8h às 18h e outro à noite, que é pouco movimentado.
Com base em dados da Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo, identificamos que os crimes mais comuns no centro ocorrem principalmente nas quintas-feiras e à tarde, que é o período mais perigoso. Já a madrugada, embora tenha menos ocorrências, ainda apresenta riscos específicos.
Para melhorar, seria interessante investir em tecnologia, como câmeras de monitoramento posicionadas estrategicamente nos locais com maior incidência de crimes. Além disso, é essencial que as forças de segurança, como a Polícia Militar e a Guarda Civil Municipal, recebam apoio para atuar de forma mais eficaz.
O e-commerce tem sido apontado como uma ameaça ao comércio físico. Na sua opinião, ele realmente vai acabar com as lojas físicas?
Não necessariamente. O e-commerce é uma realidade crescente e já representa uma fatia importante do mercado. Entre 2019 e 2020, houve um aumento de 47% no volume de vendas online no Brasil. Mesmo após a pandemia, esse crescimento continuou: 15% entre 2022 e 2023, e 18% entre 2023 e 2024.
No entanto, as lojas físicas ainda têm espaço, desde que sejam criativas e competitivas. Algumas categorias, como perfumaria e vestuário, continuam dependendo da experiência presencial. Imagine comprar um perfume sem poder sentir o cheiro ou experimentar uma roupa antes de levar para casa. Esses são diferenciais que o comércio físico pode explorar.
Outro ponto importante é a sinergia entre lojas físicas e e-commerce. Por exemplo, uma loja física pode servir como ponto de retirada para compras online, reduzindo custos logísticos e aumentando o fluxo de clientes. Além disso, eventos e consultorias especializadas podem atrair consumidores para experiências únicas.
Quais são as oportunidades para o setor imobiliário no centro de Jundiaí?
O centro de Jundiaí tem grande potencial para receber novos empreendimentos residenciais. Hoje, o custo do terreno no centro é mais alto do que em áreas mais distantes, mas isso pode ser compensado com incentivos legais, como coeficientes de aproveitamento construtivo mais generosos. Isso permitiria a construção de prédios maiores e mais rentáveis.
Além disso, é possível adaptar prédios antigos para uso residencial, algo que já acontece em São Paulo com o conceito de retrofit. Outra ideia é promover parcerias público-privadas para construir habitações de interesse social no centro, com subsídios governamentais para facilitar a compra.
Por fim, a mobilidade urbana e a segurança pública são fundamentais. Se as pessoas se sentirem seguras e tiverem acesso fácil ao centro, elas vão querer morar lá, o que também beneficiará o comércio local.
E sobre a questão social? Como lidar com moradores de rua e dependentes químicos no centro?
Esse é um tema delicado, mas crucial. Não adianta simplesmente expulsar essas pessoas, pois isso só empurra o problema para outro lugar. Precisamos de políticas públicas que ofereçam assistência social adequada, como centros de tratamento para dependentes químicos e abrigos noturnos com alimentação e cuidados básicos.
Um exemplo que observei foi em Vancouver, no Canadá, onde existem centros especializados para dependentes químicos. Isso reduz a presença deles nas ruas e oferece condições mais dignas para recuperação. Em Jundiaí, precisamos pensar em soluções semelhantes, sempre com foco na inclusão e no respeito aos direitos humanos.
Para finalizar, quais são suas palavras sobre a revitalização do centro de Jundiaí?
Acredito que Jundiaí tem uma vantagem em relação a grandes centros urbanos: aqui, existe um sentimento de união entre empresários, entidades e a gestão pública. Todos querem o bem da cidade e estão dispostos a colaborar.
Precisamos formar equipes multidisciplinares para resolver problemas complexos, como a revitalização do centro. Isso envolve segurança, mobilidade urbana, incentivos fiscais, desenvolvimento imobiliário e políticas sociais. Se trabalharmos juntos, podemos transformar o centro de Jundiaí em um espaço vibrante, seguro e atrativo para moradores, comerciantes e visitantes.
Conclusão
A entrevista com Eli Gonçalves traz insights valiosos sobre os desafios e oportunidades para revitalizar o centro de Jundiaí. Ao destacar a importância da segurança pública, mobilidade urbana, integração entre lojas físicas e e-commerce, e políticas sociais, Eli reforça que a revitalização é um esforço coletivo que exige planejamento estratégico e colaboração entre diferentes setores da sociedade.
Esperamos que essa conversa inspire debates e ações concretas para transformar o centro de Jundiaí em um espaço dinâmico e inclusivo.