Por José Arnaldo de Oliveira
Com “Viva a Vida”, livro que terá lançamento nesta terça (22) a partir das 18 horas na Casa Cica com entrada gratuita e música ao vivo de Dalmo Gatti, o colunista Picôco Bárbaro apresenta uma seleção de crônicas escritas em anos recentes, em grande parte no portal Jundiaqui e algumas compartilhadas com amigos nas redes sociais.
Mas o motivo de celebração é outro. Nascido Luiz Francisco mas celebrizado pelo apelido, Picôco tem uma longa trajetória que mistura registros sociais com reflexões pessoais diversas. Sua abordagem de Jundiaí foi desenvolvida a partir de um contexto familiar onde avôs, pais e irmãos são parte essencial de uma personalidade multifacetada.
Ele acompanhou momentos fortíssimos do que pode ser chamado de uma “cultura italianada” na Ponte São João, onde nasceu e guardou histórias desde a vaquinha feita por Vasco Venchiautti para a construção do viaduto sobre os trilhos, em 1950, até as manifestações populares como as corridas de carriolas, as corridas de tamancos, os concursos de mentiras e muito mais.
Depois passou a registrar tanto a vida da sociedade nos clubes, associações e mesmo eventos familiares como também a vida política, sindical, religiosa e popular e também a boemia e as atividades dos músicos e artistas da cidade.
E sempre atuando na sua região de origem – de onde nunca arredou pé – como um protagonista do apoio ao carnaval anarquista do Estamos na Nossa a partir dos anos 70 (herdeiro da anterior escola de samba Além Viaduto), ao futebol amador de grandes momentos do Estrela da Ponte, à música tradicional da Banda São João Batista, aos avanços do Clube Recreativo São João (que na década de 1980 ergueu um icônico ginásio projetado por Araken Martinho).
E muito mais. Além do acompanhamento permanente dos eventos da cidade, foi um dos criadores na passagem das décadas de 1980 e 1990 de um caderno inicialmente de idéias e artigos na fase impressa no Jornal de Jundiaí – o suplemento Estilo – que foi um dos fóruns de debate local na redemocratização do país depois da Constituição, ainda antes da internet.
O amplo conjunto de amizades, que superava qualquer rede virtual da atualidade, sempre foi mantido de forma dedicada pelo contato e pelo carinho.
A marca da presença familiar está em alguns dos principais pontos da região da Ponte, como a Escola Parque Luiz Bárbaro ou o Complexo Viário Oswaldo e Leta Bárbaro, fazendo eco para a antiga padaria e confeitaria, para o buffet de festas, para as corridas de seu pai como assistente de tela para levar os rolos de filmes entre o Cineteatro Polytheama e o Cine Ideal, por exemplo.
Mas também, com a marca mais pessoal do próprio Picôco, na evolução de coisas como o Estamos na Nossa para inspirar depois a Banda da Ponte ou o Refogado do Sandi. Somente a perda das pessoas queridas afeta o escritor, que em recente imagem de divulgação do livro escolheu uma fotografia onde aparece com a avó Palmyra e com a sua então babá Helena Ravagnani.
Em defesa desse olhar mais amplo no tempo sobre os acontecimentos cotidianos ou sobre fatos importantes que decide relembrar, Picôco cita em um dos seus artigos que “a História é feita de passado, esse que tanto se apregoa que o brasileiro não tem. E recorrer ao passado não é viver dele, longe disso. É aprendizado.
É saber que toda grandiloquência que atribuímos a nós mesmos é tão somente o mesmo que Galileu desmentiu quando pensávamos que a Terra era o Centro do Universo”.
É um pouco do sentido que explica seu bordão dos últimos anos e uma forma de ver o mundo que deveria interesser a veteranos ou jovens, gregos ou baianos. Porque a vida é feita de detalhes, de pessoas e de tempos.
Portanto, reforcemos o brado: Vida a Vida.
Foto de abertura, por Alessandro Rosman